Análise de Brasil coração do mundo

Análise de Brasil coração do mundo
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O SUDÁRIO, HÁ POSSIBILIDADE DE SER AUTÊNTICO?

José Passini 
Juiz de Fora / MG

O Sudário de Turim ou o Santo Sudário é uma peça de linho que mede 4,36 m por 1,10 m, que se encontra sob a custódia da Igreja Católica Romana, em Turim. Tem sido objeto de adoração por crentes e de estudo por cientistas, estes divididos entre uns poucos que o consideram uma falsificação, e muitos – inclusive agnósticos – que lhe atestam autenticidade. A autenticidade assegurada por muitos não inclui a afirmação de que seja realmente a peça de pano que esteve em contato com o corpo de Jesus. Apenas declaram estarem convencidos de que não se trata de uma falsificação, de um pano pintado na Idade Média, como tantos outros o foram, adquirindo a condição de relíquias religiosas e passando a ser adorados por fiéis.

O Sudário começou a ganhar notoriedade a partir do século XIV, precisamente no ano 1357, quando foi exposto por Joana de Vergy, esposa do dono da peça. Mais tarde, passou a pertencer à família Savoia, tendo sido, há pouco tempo, doado à Igreja Católica.

Um teste com o carbono-14 nega que o Sudário seja um tecido do primeiro século da Era Cristã. Alguns cientistas apresentam, contra a validade desse teste, dois argumentos fortes: o fato de ter sido a peça de linho cozida em azeite, na Idade Média, na tentativa de se provar que se tratava de pintura recente, e de ter estado exposta a dois incêndios nos locais onde se achava depositada, tendo numa dessas ocorrências se derretido parte da caixa de prata onde ela se encontrava. O fogo, nas duas ocasiões, deixou marcas que não chegaram a afetar seriamente a figura nela impressa.

Embora a tomemos por base, não nos propomos aqui a repetir tudo o que está afirmado na obra editada nos Estados Unidos, traduzida em Português sob o título “A Verdade sobre o Sudário”, de Kenneth E. Stevenson e Gary R. Habermas, que contaram com a colaboração direta de profissionais das áreas médica, física, biofísica, química e fotográfica, além de se estribarem em conclusões de outros pesquisadores, franceses e italianos.

Os citados autores não têm a mínima dúvida de que se trata do pano sobre o qual o corpo de Jesus foi colocado, tendo sido dobrado por sobre o corpo, razão por que apresenta duas figuras, uma de frente e outra de costas. Atestam os autores que foram feitos exames de partículas de sangue e de plasma, de polem de flores do oriente, de fibras de algodão, além de terem comprovado que o corpo havia sido chicoteado, que teria recebido uma coifa de espinhos sobre a cabeça, que tivera parte da barba arrancada, que tivera os pulsos e os pés trespassados por cravos, e que fora lanceado no flanco esquerdo, depois de morto. Além disso, apresentava sinais de que duas moedas haviam sido colocadas sobre seus olhos para mantê-los fechados, consoante o costume da época. Em nada, segundo os Autores, a figura do Sudário contraria os relatos contidos no “Novo Testamento”.

Entretanto, nenhum dos pesquisadores conseguiu explicar como a figura se fixou naquela peça de linho. Atestam não se tratar de pintura, nem de tintura, nem de marca de fogo, nem de qualquer processo conhecido tanto na Idade Média, quanto na atualidade. Verificaram, todos os pesquisadores, que as fibras dos fios estão marcadas apenas na superfície, não havendo nenhum indício do uso de tinta ou corante, que, por mais cuidadosa fosse a operação, penetraria no interior das fibras. Deve ser ressaltado que a figura não apresenta distorções como seriam naturais se o pano tivesse sido calcado sobre o corpo a fim de colher-lhe as impressões.

Várias hipóteses foram levantadas para explicar a fixação da figura no linho: emprego de ácido, emprego de vapor, uma chamuscadura produzida por um calor rápido; irradiação de alta energia; radiação atômica. Além do mais, deve ser ressaltado que a imagem foi fixada no linho como num processo fotográfico e a figura se apresenta como um negativo.

Diante da dificuldade de se produzir peça semelhante, um cientista afirmou: “Precisaríamos mais do que um milagre para apresentar o Sudário como uma farsa e não como um objeto autêntico.”
 E Yves Delage, membro da Academia Francesa, agnóstico confesso, ao concluir que o Sudário é o lençol fúnebre de Jesus, declarou: “Um problema religioso foi desnecessariamente injetado num assunto que, em si, é puramente científico... Se, em vez de Cristo, se tratasse de alguma outra pessoa, como um Sargão, um Aquiles ou um dos Faraós, ninguém teria pensado em fazer nenhuma objeção... Reconheço Cristo como uma personagem histórica e não vejo razão que justifique o fato de alguém se sentir escandalizado porque ainda existem vestígios de sua vida terrena...”

Outros pesquisadores, inclusive os autores, que, por serem católicos, a partir do limite aonde a Ciência chegara, apelam para o “sobrenatural”, vez que fora constatado o fato de o corpo não ter sofrido nenhum processo de decomposição sobre o Sudário. Alegam que houve um milagre, uma intervenção direta de Deus, que propiciou a Jesus levantar-se da sepultura com o seu corpo carnal.
Não explicam, entretanto, como Jesus apareceu vestido como um homem da época – a ponto de Madalena, ao vê-lo de costas, imaginar fosse o hortelão –, se o seu corpo fora deixado nu sobre o Sudário, conforme atesta a figura nele impressa. Nem explicam por que Jesus passou a agir de maneira totalmente diferente de como agia antes do suplício: aparecia e desaparecia subitamente; atravessava portas fechadas; não mais se hospedou em casa de ninguém; não fez mais refeições habituais como fizera até então.
Será que durante esses quarenta dias que medeiam a ressurreição e a ascensão, Jesus não quis mostrar que continuava vivo, mas não estava mais encarnado? Se o corpo era o mesmo, por que não agira assim antes? Por que voltaria para o “céu”, levando um corpo que não tivera antes? E, raciocinando-se de acordo com o dogma católico-protestante, de Jesus ter sido o próprio Deus encarnado – ou pelo menos um terço da Trindade –, como pôde levar um corpo físico gerado na Terra e acrescentá-lo à Divindade? Nesse caso, Deus não estaria completo até então, pois aquilo que está completo não aceita mais acréscimo algum... Além do mais, esse raciocínio seria aceitável durante a Idade Média, quando a Terra gozava do status de ser o centro do Universo, mas hoje, diante do que se conhece a respeito do Cosmo, é inaceitável tal teoria, mesmo que o Universo fosse constituído apenas pela nossa galáxia, a Via Látea.

Os autores chegam à tese da ressurreição em corpo espiritual, chamando-a de tese naturalista, mas negam-na. Negam-na veementemente, chegando a citar a I Carta de Paulo aos Coríntios, no seu capítulo 15, mas o fazem de modo incompleto, pois deixam de lado os versículos 35, 36, 37, 40, 42, 44 e 50, nos quais o Apóstolo pergunta com que corpo ressuscitaremos, respondendo, ele próprio, que temos dois corpos: o espiritual e o animal, dizendo: “semeia-se corpo animal, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo animal, há também corpo espiritual.” E, para que não pairem dúvidas, ainda diz: “... que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herda a incorrupção.”

Ao deixarem a condição de pesquisadores e assumirem a de teólogos, os autores dizem que a ressurreição de Jesus se deu por intervenção direta de Deus e que se trata de fenômeno irrepetível. Diante de tal afirmativa é lícito seja perguntado com que corpo apareceram Moisés e Elias a Jesus, no Tabor, conforme relatado no Novo Testamento (Mt, 17: 1 a 13; Mc, 9: 1 a 13; Lc, 9: 28 a 36). Como puderam aparecer, tão materializados, a ponto de Pedro propor a construção de três cabanas, uma para Jesus, outra para Moisés e outra para Elias, conforme o relato dos três Evangelistas? Que corpo tinham eles, se a ressurreição de Jesus foi irrepetível

Não temos conhecimento de que existam na Codificação, nem em obras subsidiárias, referências ao Sudário. Entretanto, com base em experiências mediúnicas e revelações feitas por Espíritos, podem ser levantadas algumas hipóteses:

André Luiz (Obreiros da Vida Eterna, caps. 15 e 16), em duas situações, revela que trabalhadores do Bem dissipam as energias remanescentes nos cadáveres, antes do sepultamento, a fim de que não sejam profanados por Espíritos vadios. Diante disso, é de se perguntar: quem teria condições para dissipar a energia remanescente no corpo de Jesus, se não ele próprio? E ao fazê-lo, não o teria desmaterializado completamente? Com que objetivo Jesus deixaria na sepultura o corpo físico que lhe servira de instrumento, vez que, embora não mais pudesse ser explorado por Espíritos que quisessem se apossar dos fluidos remanescentes, sê-lo-ia por certo pelos sacerdotes interessados em apagar quaisquer indícios que lembrassem o Carpinteiro? Imaginemos o que aconteceria se o túmulo não estivesse efetivamente vazio: promoveriam uma exposição do cadáver, dizendo que as aparições de Jesus eram falsas.

Jesus não procurou convencer a ninguém de que o corpo que lhe servia de instrumento para suas aparições depois da desencarnação não era mais carnal. Pretendeu, por certo, provar a vitória da vida sobre a morte.  Isso, para a época, era o suficiente. Entretanto, ao ser visto por Saulo, na Estrada de Damasco, este compreendeu perfeitamente a imaterialidade daquele corpo luminoso com que o Mestre se apresentava. Daí, suas declarações na Carta aos Coríntios, já citada.

Mas, se Jesus desmaterializara o seu corpo, como poderia deixar prova de que não havia sido retirado da cruz ainda com vida – como querem alguns fantasistas – e levado para um lugar distante, onde teria continuado a viver? Pode-se supor que tenha deixado que as radiações produzidas pela desmaterialização plasmassem no tecido do Sudário a figura do seu corpo, que tinha sido colocado sobre uma parte do tecido e coberto com a outra.

As palavras de Jesus, quando promete o Consolador, ajudam a entender por que ele decidira não falar mais sobre o assunto, deixando as explicações para mais tarde, quando a Ciência tivesse avançado e pudesse estudar e explicar aquele fenômeno. Para quando o entendimento dos homens tivesse se alargado, de molde a entender-lhe a lição sem palavras a respeito da imortalidade, quando tivessem condições de entender a condição acidental – e não essencial – do corpo físico. Analisemos suas palavras: “Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora.” (Jo, 16: 12). E disse mais: “Aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que tenho ensinado.” (Jo, 14: 26).

O Espiritismo, na sua condição de o Consolador prometido por Jesus, veio lembrar a sublime lição de imortalidade deixada pelo Mestre, escoimando-a de todas as fantasias criadas por teólogos, clérigos e leigos, tirando-lhe o caráter milagroso, mágico, irreal, e trazendo-a ao campo do raciocínio claro, lógico e coerente. Apoiado na Ciência, pôde o Espiritismo, séculos mais tarde, demonstrar que as aparições de Jesus não significaram uma derrogação das leis eternas. Inúmeras experiências de materialização foram levadas a efeito por cientistas de renome, que provaram à saciedade que o espírito desencarnado pode materializar-se, tornando-se visível, audível e tangível, conforme relata Arthur Conan Doyle, em sua obra “História do Espiritismo”, em que cita o testemunho de pesquisadores da estatura e respeitabilidade de Sir William Crookes, Cesare Lombroso, Sir Oliver Lodge, Camile Flammarion, Charles Richet, entre outros.

Digna de destaque é a figura do Prof. Crookes, tanto pela sua contribuição à Ciência, quanto pelos seus títulos. Descobriu o tálio, inventou o radiômetro, os tubos eletrônicos de catódio frio para a produção dos raios-X. Recebeu o Prêmio Nobel de Química, o título de Cavaleiro da Rainha Vitória, recebeu a Gold Medal, a Davy Medal, a Sir Joseph Copley Medal, na Inglaterra. Na França, foi premiado pela Academia de Ciências, que lhe concedeu medalha de ouro e um prêmio de 3.000 francos.  Esse eminente homem de Ciência se destaca também nas pesquisas de fenômenos psíquicos. Durante quase quatro anos, promoveu sessões em que se materializava o Espírito Katie King, que lhe proporcionou oportunidade de aplicar todo o seu rigor científico em pesquisas que o convenceram, a ele e a outros cientistas, da veracidade dos fenômenos. Além disso, o Espírito Katie King proporcionou-lhe memoráveis ocasiões de convívio, não só com ele, mas com outros pesquisadores e até com familiares, inclusive crianças, conforme se constata na obra “Fatos Espíritas”, de sua autoria.

Alguns desses cientistas aceitaram pesquisar fenômenos de materialização, desmaterialização e rematerialização, com o objetivo declarado de provar-lhes a irrealidade, mas acabaram por se convencer dos fatos, e se tornaram espíritas convictos. É o caso de William Crookes, que teve a coragem de declarar seu convencimento a respeito da autenticidade dos fenômenos à Sociedade Real de Londres, para escândalo de muitos de seus membros ilustres. Esse eminente homem de Ciência, provando que todo testemunho da Verdade é penoso para aquele que se propõe a dá-lo, amargou com a incompreensão de muitos colegas

Nos anos que se seguiram à publicação das obras básicas do Espiritismo, houve uma verdadeira onda de pesquisas desses fenômenos, cujos resultados se acham registrados em vasta bibliografia que pode ser consultada por aqueles que, libertos do ranço religioso, se proponham a fazê-lo.

          Concluindo, chega-se à hipótese mais plausível a respeito do Sudário: se ele é realmente a peça de linho sobre a qual foi depositado o corpo de Jesus, a explicação mais clara, mais racional e lógica – livre de qualquer ideia de derrogação das leis da Natureza e de milagre – é essa que o Espiritismo nos proporciona. É um raciocínio que vem explicar, não confundir. É um raciocínio que não agride a razão, como o faz a teoria da ressurreição em corpo carnal.


ESQUECIMENTO DO PASSADO



                                                                     “Havendo Deus entendido de lançar um véu
                  sobre o passado, é que nisso há vantagem.”
                                               O E. s. E., cap. V, item 11
                                                                                                       
        

Vez por outra, recomendações de Jesus, de Kardec e de Benfeitores Espirituais são deixadas de lado em favor de posicionamentos pessoais apaixonados. Alguns poderão dizer que não se trata de palpite de encarnados, vez que em mensagem recebida por médium conhecido e, recentemente, em mais de um livro psicografado, foi feita a afirmação a respeito da volta de Kardec na pessoa de Chico Xavier. No caso do famoso médium mineiro, a recomendação, em epígrafe, se aplica por inteiro. Se houvesse interesse do Mundo Maior em que fosse revelado o seu passado, os Espíritos poderiam já tê-lo feito no momento oportuno. Mas, qual seria o objetivo de tal revelação? Em que aumentaria a credibilidade do médium ou da mensagem espírita? Há muitos encarnados e desencarnados que gostam de controvérsias. Tão logo desaparece uma, providenciam outra.

Nesse particular, lembramos palavras de Emmanuel a respeito de outras “revelações” levadas a efeito por Espíritos, na questão de o Mestre ter vivido entre os Essênios, afirmativa que o Benfeitor nega: “As próprias esferas mais próximas da Terra, que por força das circunstâncias se acercam mais das controvérsias dos homens que do sincero aprendizado dos espíritos desprendidos do orbe, refletem as opiniões contraditórias da Humanidade, a respeito do Salvador de todas as criaturas.” (A Caminho da Luz, cap. 12).

E o que dizer da “Saudação de Allan Kardec”, psicografada por Júlio César Grandi Ribeiro, na noite de 2 de janeiro de 1984, na comemoração do centenário da Federação Espírita Brasileira e da transferência de sua sede para Brasília, conforme publicado no “Reformador” de março de 1984? Bem, aqueles que quiserem continuar argumentando, sabemos que poderão dizer o Chico poderia ter deixado seu veículo físico em Uberaba, possivelmente psicografando àquela hora – era uma segunda-feira – e ter ido a Brasília, fazendo toda uma revolução psicológica em si mesmo, a fim de apresentar-se como Kardec... É fácil conciliar a figura viril de João Huss com a de Kardec, mas torna-se difícil ver esse mesmo Espírito apresentar-se como Francisco Cândido Xavier. Seria assim tão fácil para um Espírito fazer essa verdadeira revolução psicológica de um momento para outro? Tome-se como exemplo o desempenho de Elias, que se repete em João Batista, alguns séculos depois. 

Outro assunto controverso é o de André Luiz ter sido Carlos Chagas, como querem alguns, agora reforçados em suas convicções por “revelações”, trazidas por Espíritos desocupados, através de médiuns invigilantes. Neste caso, o assunto toma caráter mais grave, diante do fato de o famoso cientista ainda ter descendentes encarnados. 

Mas, não bastasse o apelo ao bom-senso, seria fácil verificar dados: Não é difícil calcular a época da desencarnação de André Luiz, tomando-se por base suas conversas com Lísias: “Talvez não saiba ainda que sua permanência nas esferas inferiores durou mais de oito anos consecutivos.” (N.L., pág. 47). Em agosto 1939, André Luiz ouvia Lísias, que lhe falava sobre a iminência da Segunda Guerra Mundial (N.L., pág. 132). Daí pode-se deduzir que já estivesse desencarnado há, pelo menos, nove anos, vez que já estava perfeitamente sadio. Por esse cálculo, ele deveria ter desencarnado, no máximo, em 1930. Carlos Chagas desencarnou a 8 de novembro de 1934, aos 55 anos de idade. Deve-se notar que André Luiz deve ter recebido o título de médico por volta dos 25 anos, logo, se clinicou durante 15 anos, desencarnou com pouco mais de 40. André Luiz declara que deixou na Terra um filho e duas filhas. Carlos Chagas, dois filhos. Será que as informações contidas na obra “Nosso Lar” não são verdadeiras?

Além do mais, André Luiz fica perfeitamente caracterizado como clínico, médico de consultório, pelas palavras de Clarêncio: “(...) nos quinze anos de sua clínica, também proporcionou receituário a mais de seis mil necessitados. Verbalmente pede qualquer gênero de tarefa; mas, no fundo, sente falta dos seus clientes, do seu gabinete, da paisagem de serviço com que o Senhor honrou sua personalidade na Terra.” (N.L., pág. 81). Será que Clarêncio teria cometido engano ao dizer isso?

Nessa referência ao seu trabalho na Terra, nada que pudesse identificá-lo com o eminente cientista: pesquisador, bacteriologista e sanitarista, que foi Carlos Chagas, que se dedicou à bacteriologia desde os seus tempos de estudante. Cientista reconhecido mundialmente, foi professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro; recebeu o título Magister Honoris Causa das Universidades de Harvard e de Paris; pertenceu às academias científicas de Nova Iorque, Paris e Lima; foi premiado com medalha de ouro pela Universidade de Hamburgo (Prêmio Kummel); passou dois anos viajando pelo vale amazônico, levantando a carta epidemiológica da região; à frente de campanha profilática, erradicou a malária na cidade de Santos; foi Diretor do Instituto Oswaldo Cruz de 1917 a 1934, quando desencarnou. (Grande Enciclopédia Delta Larousse). 

Outro fato que contesta a afirmativa de André Luiz ter sido Carlos Chagas é a causa mortis. André Luiz, conforme declarado no livro “Nosso Lar”, desencarnou em consequência de um câncer no intestino, depois de um sofrimento de quarenta dias. A desencarnação súbita de Carlos Chagas se deu em função de um infarto do miocárdio.

É de se ver que a novidade anima tanto, a ponto de esses que se põem a propalá-la se esquecem das palavras de Emmanuel, ao apresentar André Luiz, no prefácio do livro “Nosso Lar”: “Embalde os companheiros encarnados procurariam o médico André Luiz nos catálogos da convenção. Por vezes o anonimato é filho do legítimo entendimento e do legítimo amor (...). É por isso que não podemos apresentar o médico terrestre e autor humano, mas sim o novo amigo e irmão na eternidade.” E tudo indica que o anonimato não decorreu de decisão pessoal de Emmanuel, diante do que se lê na obra “Voltei”, no final do cap. 2, referindo-se a André Luiz: “... o esforço dele é impessoal e reflete a cooperação indireta de muitos benfeitores nossos que respiram em esferas mais elevadas.”

Diante disso, seria de se perguntar: Quem determinou fosse suspenso o anonimato? O que mudou no cenário terrestre para que fosse revelada a identidade de André Luiz? Qual o benefício dessa pretensa revelação, a não ser o de provocar discussões estéreis? Em que essas “revelações” contribuem para o esclarecimento das pessoas?

Por que essa insana busca de saber quem foi André Luiz, ao invés de estudar-lhe a obra? No cap. 10 do livro “Os Mensageiros” encontra-se ”A Experiência de Joel”, médium dotado de extraordinária sensibilidade, que dedicou-se exclusivamente à pesquisa de reencarnações passadas, o que, além de nada ajudar na divulgação da Doutrina Espírita, prejudicou-o profundamente, conduzindo-o ao grande desequilíbrio que levou para o Mundo Espiritual, ao desencarnar. 

Não seria melhor ocuparmos nosso tempo em reuniões mediúnicas destinadas a esclarecer irmãos que sofrem? O Espiritismo não tem como bandeira a caridade? Caridade para com desencarnados sofredores, para com crianças que carecem de orientação espírita através da evangelização.

José Passini

Juiz de Fora MG

jose.passini@gmail.com


Carta Fraterna


        


         
Cônscio da responsabilidade que cabe a todos nós, espíritas, no sentido da manutenção da fidelidade à Doutrina que nos ilumina os caminhos, é que tomamos a liberdade de trazer-lhe, minha Irmã, meu Irmão, algumas considerações a respeito do cuidado que devemos ter quanto ao uso do nome “Espiritismo”. 

No Espiritismo não há autoridades religiosas que devam ser consultadas a fim de darem seu parecer favorável ou contrário a qualquer publicação, seja livro, filme, programa na internet. Uma das vigas mestras da estrutura do Espiritismo é a liberdade. Mas, essa liberdade atribui, ao mesmo tempo, alta responsabilidade, àqueles que dirigem uma instituição espírita, seja um centro, uma editora, uma livraria ou um clube do livro, pois que têm responsabilidade direta por aquilo que é passado ao público, em nome do Espiritismo. Uma análise criteriosa de algo passado ao público em nome da Doutrina é, não raro, tachada de intolerância, de censura. Se a obra em questão é mediúnica, há aqueles que consideram falta de caridade praticada contra o médium, qualquer observação discordante.

O Espiritismo é uma doutrina de livre-exame, adotada por livres-pensadores. Seu embasamento dá-se em Jesus e em Kardec. Noutras religiões, há conselhos formados por membros que detêm poder no campo doutrinário, e esses conselhos deliberam sobre pessoas que devam ser acatadas ou banidas do grupo, como também deliberam sobre práticas, inovações e publicações.

No Espiritismo não há nada disso. Entretanto, todos os espíritas temos responsabilidade definida naquilo que apresentamos ou que apenas prestigiamos em nome da Doutrina. Cada espírita é, no âmbito de suas atividades, um guardião dos seus princípios básicos, cabendo-lhe – para ter o direito de dizer-se espírita – o dever de, no âmbito de suas atividades, resguardar-lhe a coerência, a nobreza, a objetividade, a clareza, a simplicidade, a fidelidade aos princípios ético-morais do Evangelho de Jesus e aos princípios doutrinários estabelecidos pelos Espíritos Superiores, codificados por Kardec.

Assim sendo, um espírita ao tornar público algo que diga respeito à Doutrina, não necessita obter permissão de nenhum órgão censor ou controlador. Entretanto, deve avaliar se aquela mensagem – seja um simples folheto, uma mensagem recebida mediunicamente num centro, um artigo ou um livro – vai contribuir para o despertamento ou para o esclarecimento de alguém. Deve avaliar, com segurança, se acrescenta algum conteúdo útil, ou se está apenas repetindo lugares comuns, levando seus leitores ou ouvintes a uma perda de tempo. A questão se reveste de maior gravidade quando o leitor ou o ouvinte não conhece o Espiritismo. Algumas vezes, certos livros ou oradores causam péssima impressão seja pela ingenuidade dos conceitos, seja pelos absurdos apresentados. 

Infelizmente, esse é o quadro com que nos deparamos na atualidade. Nota-se uma verdadeira avalancha de publicações ostentando o nome de espíritas. Vão desde as simples mensagens mediúnicas obtidas em centros espíritas, até a obras volumosas, mediúnicas ou não, cujos autores lançam ao público, sem uma avaliação cuidadosa quanto aos efeitos que sua iniciativa possa produzir.

Há publicações contendo comunicações simplórias obtidas em reuniões mediúnicas, sem conteúdo algum e, às vezes, com conteúdo equivocado, até contrário àquilo que a Doutrina Espírita ensina.

Outras vezes, são livros com revelações mirabolantes, em linguagem não-condizente com a seriedade e a nobreza sempre observadas nas expressões dos Espíritos comprometidos com o Bem. São obras que, de permeio a algumas páginas boas, com bons comentários a respeito do Evangelho, trazem longas descrições de zonas tenebrosas, capazes de criar imagens negativas nas mentes menos avisadas, revivendo em muitas a terrível imagem do sofrimento após a morte. Há livros que primam pela apresentação de revelações atemorizadoras, profecias de ocorrências catastróficas que, embora com datas previstas, já se têm revelado falsas, por não se terem efetivado.

Nota-se, no ar, uma tendência infrene de se publicar tudo o que aparece, como se o maior trabalho que se faz no Espiritismo fosse a sua propaganda, feita de qualquer modo. Conscientizemo-nos de que o Espiritismo não precisa de promoções, como se fosse mercadoria a ser apresentada ao público. Embora não pareça, há diferença entre propaganda e divulgação. A divulgação do Espiritismo será muito mais eficaz se promovida através de literaturas e de palestras equilibradas, comedidas e, principalmente, da vivência pessoal, pelos espíritas, dos postulados do Evangelho. 

Lembremo-nos de Kardec que, malgrado o pouco tempo de que dispunha, face aos deveres profissionais, enfrentando os imensos tabus religiosos reinantes, enfrentando o custo elevado de material impresso, sem rádio, televisão ou internet, conseguiu divulgar o Espiritismo de maneira espantosa. A Doutrina foi sendo difundida, sempre em ritmo crescente, com segurança, firmeza e seriedade. Por que, agora, pretender-se uma propaganda leviana, sensacionalista, oportunista? Por que nos encantarmos com o volume de edições de livros, se não lhes avaliamos o conteúdo? Ou mesmo com o sensacionalismo de alguns expositores desejosos de inovar? 

Será lícita a falta de coragem do responsável pela organização de palestras ou seminários, numa casa espírita, em pedir esclarecimentos ao expositor sobre pontos julgados duvidosos em sua exposição? Se o questionamento for acatado com boa vontade e suficientemente esclarecido, isso mostra que o expositor está seguro do que expôs e está interessado em servir a Doutrina. Caso contrário, ao demonstrar-se agastado, ficará evidenciado que o amor à sua figura pessoal está acima da fidelidade aos conceitos doutrinários.

O que responderemos àqueles que, ao ingressarem nos estudos da Doutrina, nos perguntarem sobre pontos duvidosos expostos num livro ou numa palestra? Essa é uma difícil hora de testemunho à verdade, quando devemos colocar o nosso zelo para com a Doutrina acima de falsas noções de fraternidade, lembrando-nos da recomendação de Jesus: “Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim, Não, não, porque o que passa disso é de procedência maligna.” (Mat, 5: 37). 

Há aqueles que argumentam, dizendo que temos liberdade de ler tudo, tomando como base o ensinamento de Paulo: "Examinai tudo. Retende o bem.” (I Tes, 5:21). Sim, é verdade, não existe nenhuma orientação espírita no sentido de proibir qualquer leitura. Mas, devemos ter em mente que podemos comprometer o nome do Espiritismo não com o que lemos, mas com o que damos a público em seu nome. Por isso, é lícito nos perguntemos se temos tido o cuidado de examinar o que se publica em nome do Espiritismo. Ou temos deixado correr? Quem é o responsável pela fidelidade doutrinária?

Urge, mais do que nunca, uma ação corajosa, consciente de fidelidade não só à Doutrina, mas a nós próprios, à nossa consciência, pois "quem cala, consente".

José Passini
jose.passini@gmail.com




A COMUNICAÇÃO DOS ESPÍRITOS

                               
              

jose.passini@gmail.com


O profetismo é prática milenar, conforme se constata no verbete profeta, na Enciclopædia Britannica, na sua edição original. 

Quando se fala em comunicação com os mortos, há dois pontos interessantes a serem observados: primeiro, há os que dizem ser tal prática condenada “pela palavra de Deus”, citando a proibição contida no Deteuronônio, cap. 18: 10 a 13. Em verdade, não se trata de “palavra de Deus”, mas de recomendação pertencente à legislação mosaica; segundo, é interessante atentar-se para o fato de que a proibição comprova efetivamente o intercâmbio com os mortos, pois se existiu a proibição é porque existia o fato. É de senso comum que uma legislação que regula ou proíbe algo sempre surge a posteriori, e não a priori, ou seja, é feita sempre sobre um fato já existente. Logo, se Moisés proibiu é porque existia.

Deve ser lembrado que a proibição de Moisés visava a coibir o abuso daqueles que mantinham o intercâmbio, usando-o para fins frívolos ou para a solução de problemas pertencentes à esfera das decisões dos homens e não dos Espíritos. Diga-se, de passagem, que o Espiritismo – que não proíbe nada – desaconselha o intercâmbio mediúnico para esses mesmos fins, esclarecendo que Espíritos superiores não se envolvem nesses assuntos, tão ao agrado de Espíritos frívolos e desocupados.

Há, também, aqueles que se baseiam na filosofia tomista, que afirma a imortalidade da alma, mas que esta não tem vida plena sem o corpo, considerando-o seu instrumento indispensável, a ser readquirido na ressurreição, para o julgamento final. Não se sabe como Tomás de Aquino explicaria o fato de dois Espíritos desencarnados, Moisés e Elias, sem corpo material, terem conversado com Jesus, na presença de Pedro, Tiago e João (Mat, 17: 10 a 13) 

Não vamos invocar o testemunho de cientistas que pesquisaram o fenômeno mediúnico e produziram farto material bibliográfico a respeito. Argumentaremos exclusivamente dentro da Bíblia, na tradução de João Ferreira d’Almeida, da Sociedade Bíblica Britannica e Estrangeira, edição de 1937. Citamos o ano da publicação pelo fato de essa mesma tradução já ter sofrido algumas “atualizações”.

No Velho Testamento, (I Sam, 28), sob o título “Consulta à pitonisa de Endor”, vemos uma autêntica comunicação do profeta Samuel, que fora, enquanto encarnado, conselheiro do rei Saul. Este, na iminência de uma batalha, ressentindo-se da ausência do seu conselheiro, que desencarnara, ordenou fosse procurada uma evocadora de espíritos. Aparece-lhe Samuel, que o aconselha a não entrar na batalha contra os filisteus, sob pena de morrerem ele e seus filhos. Saul, que não fora buscar conselho, mas apoio, sentindo-se desamparado, caiu desmaiado. Embora seriamente advertido, entrou na batalha, onde pereceu, juntamente com seus filhos.

No Novo Testamento (At, 16: 9), há o relato de uma visita feita a Paulo, por um homem que, liberto do corpo físico pelo sono, comunicou-se com ele: “E Paulo teve de noite uma visão, em que se apresentou um varão da Macedônia, e lhe rogou, dizendo: Passa à Macedônia, e ajuda-nos.” Nos versículos seguintes, vê-se que Paulo foi atender o pedido, vez que encaminhou-se à Macedônia. 

Em Atos (10: 30 a 32), está claramente relatada uma comunicação de um espírito desencarnado, diretamente dirigida a um homem, sem ao menos usar o corpo físico de um médium, conforme relato do centurião Cornélio a Pedro: “Há quatro dias estava eu em jejum até esta hora, orando em minha casa, à hora nona, e eis que diante de mim se apresentou um varão com vestes resplandescentes, e disse: Cornélio, a tua oração foi ouvida, e as tuas esmolas estão em memória diante de Deus. (...) e manda chamar Simão, que tem por sobrenome Pedro: este está em casa de Simão o curtidor, junto do mar, e ele, vindo, te falará.” 

Pedro estava no terraço da casa de Simão o curtidor, quando chegou a comitiva que viera convidá-lo. No momento em que chegaram os enviados de Cornélio, Pedro recebe a seguinte orientação de um Espírito: “Levanta-te pois, e desce, e vai com eles, não duvidando; porque eu os enviei.” Essa comunicação foi oportuna porque Pedro não atenderia o chamado de um romano, pelo fato de os discípulos de Jesus acreditarem, até àquela época, que a mensagem de Jesus deveria ser divulgada somente entre os judeus.

Outra comunicação de Espíritos se deu com as mulheres que foram preparar o corpo de Jesus para a sepultura, na manhã daquele memorável domingo: “E, entrando, não acharam o corpo do Senhor Jesus. E aconteceu que, estando elas perplexas a esse respeito, eis que pararam junto delas dois varões, com vestidos resplandescentes (...) lhes disseram: Por que buscais o vivente entre os mortos?” (Luc, 24: 3 a 5)

É interessante notar que os Espíritos, em vários relatos no Novo Testamento, apareceram com vestes resplandescentes, talvez para que não ficassem dúvidas de que se tratava mesmo de espíritos desencarnados.

A comunicação recebida pelo Centurião Cornélio também demonstra esse mesmo o cuidado observado pelo Espírito comunicante, conforme se depreende do relato do romano a Pedro, na passagem acima citada.

O Apóstolo Paulo – a maior autoridade em assuntos mediúnicos nos tempos apostólicos – deixou instruções seguras a serem seguidas por aqueles que pretendessem estabelecer o intercâmbio, como se lê na sua Primeira Carta aos Coríntios: “Segui a caridade, e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar.” (14: 1) Num trecho desse mesmo capítulo, que o tradutor intitula: “A necessidade de ordem no culto”, está perfeitamente caracterizada uma reunião mediúnica, para a qual Paulo dá orientação segura, no sentido de preservar a objetividade, precavendo-se contra o estrelismo dos médiuns: “E se alguém falar língua estranha, faça-se isso por dois, ou quando muito por três, e por sua vez, e haja intérprete.” (27) E, a fim de evitar o deslumbramento, deixa outra recomendação: “E falem dois ou três profetas e os outros analisem.” (29) No capítulo 12, descreve os vários tipos de mediunidade, como seja, a psicofônica, a de falar línguas estranhas, a de cura e até a intuitiva – a ser exercitada pelo dirigente da reunião mediúnica –, que ele intitula “o dom de discernir os espíritos”.

Cumpre notar, também, que Jesus não disse uma palavra sequer no sentido de condenar a comunicação com os mortos, pois seria uma incoerência, diante do fato, citado acima, narrado por três Evangelistas (Mt, 17: 10 a 13; Mc, 9: 2 a 13; Lc, 9: 28 a 36), que se referem ao diálogo que Jesus manteve com dois desencarnados: Moisés e Elias, na presença de Pedro, Tiago e João.

A Enciclopædia Britannica diz que profeta em Grego clássico quer dizer “aquele que, ao falar, não o faz pelos seus pensamentos, mas por uma revelação de fora. Cita Platão: “Não devem ser chamados profetas aqueles que simplesmente interpretam oráculos.

Em verdade, em todo o Novo Testamento não há uma linha sequer condenando a comunicação com os mortos. A literatura existente nesse sentido provém das interpretações equivocadas de teólogos que veem os fatos como lhes convém.

Além do mais, não há mortos, mas apenas Espíritos encarnados e desencarnados.





A Nova Literatura Mediúnica (José Passini)


“E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.”
Paulo (I Co, 14: 29)

As palavras de Paulo – inegavelmente a maior autoridade em assuntos mediúnicos dos tempos apostólicos – deveriam servir de alerta àqueles que têm a responsabilidade da publicação de obras de origem mediúnica.

A literatura mediúnica tem aumentado de maneira assustadora. Diariamente, aparecem novos médiuns, novos livros, alguns bem redigidos, se observados quanto ao aspecto gramatical, mas de conteúdo duvidoso se analisadas as revelações fantasiosas que iludem muitos novatos, ainda sem conhecimento doutrinário que lhes possibilite um exame criterioso daquilo que leem.

Muitos desses livros se originam de Espíritos ardilosos que, de maneira sutil, se lançam no meio espírita como arautos de novas revelações capazes de encantarem leitores menos preparados, aqueles sem um lastro de conhecimento doutrinário que lhes possibilite um exame lúcido, capaz de os levar a conclusões esclarecedoras.

Muitas pessoas que conheceram recentemente a Doutrina, antes de estudarem Kardec, Léon Denis, Gabriel Delanne e outros autores conceituados; antes de lerem as obras de médiuns como Francisco Cândido Xavier, Yvonne A. Pereira, Divaldo Franco, José Raul Teixeira, estão se deparando com obras fantasiosas, escritas em linguagem vulgar, contendo o que pretendem seus autores – encarnados e desencarnados – sejam novas revelações.

Bezerra de Menezes, Emmanuel, André Luiz, Meimei, Manoel Philomeno de Miranda, Joanna de Ângelis e tantos outros Espíritos se tornaram conhecidos e respeitados pelo conteúdo sério, objetivo, seguro, esclarecedor de suas obras, sempre redigidas em linguagem nobre. Esses Espíritos conquistaram, pouco a pouco, o respeito, a credibilidade e a admiração do público espírita pelo conteúdo de seus escritos, na forma de mensagens ou de livros, publicados espaçadamente, como que dando tempo a um estudo sereno e criterioso do seu conteúdo.

Nos dias que correm, infelizmente, o quadro se modificou. Muitos médiuns, valendo-se de nomes já conhecidos pelo valor de suas obras, tentam impor-se aos leitores espíritas, não pelo valor das mensagens em si, mas escorados em nomes respeitáveis.

Sabendo-se que nomes pouco importam aos Espíritos esclarecidos, é de se perguntar por que os benfeitores que se notabilizaram através de Francisco Cândido Xavier haveriam de continuar usando seus nomes em mensagens transmitidas através de outros médiuns? Se o importante é servir à causa do Bem, por que essa continuidade na identificação, tão pessoal, tão terrena? Não seria mais consentâneo com a impessoalidade do trabalho dos Servidores do Bem deixar que o valor intrínseco da mensagem se revele, sem estar escorado num nome conhecido? Por que não deixar que a mensagem se imponha pelo valor de seu conteúdo? Por que escudar-se em nomes respeitáveis, quando o texto não resiste a uma comparação, até mesmo superficial, de conteúdo e, às vezes, até mesmo de forma?

Por que essa ânsia insofreável de publicar tudo o que se recebe – ou que se imagina ter recebido – dos Espíritos? Onde o critério, a sobriedade tantas vezes recomendada na obra de Kardec? Será que o público espírita já leu, estudou, analisou, entendeu toda a produção mediúnica produzida até agora?

Ao dizer isso não se está afirmando que a fase de produção mediúnica está encerrada. Sabe-se que a Doutrina é dinâmica, que a revelação é progressiva. Progressiva, e não regressiva, pois há obras que estão muito abaixo daquilo que se publicou até hoje, para não dizer que há aquelas que nunca deveriam estar sendo publicadas.

Infelizmente, os periódicos espíritas, de modo geral, não publicam análises dessas obras que estão sendo comercializadas, ostentando indevidamente o nome da Doutrina. 

Impera, no meio espírita, um sentimento de falsa caridade, um pieguismo mesmo, que impede se analise uma obra diante do público. Essas atitudes é que encorajam médiuns ávidos de notoriedade à publicação dessa verdadeira avalancha de obras, que vão desde aquelas discutíveis a outras verdadeiramente reprováveis.

Nesse particular, é justo se chame a atenção dos dirigentes de núcleos espíritas, sejam centros, sejam livrarias, a fim de que avaliem a responsabilidade que lhes cabe quanto ao que é dado a público em nome do Espiritismo. O dirigente – ou o grupo responsável pela direção de uma casa espírita – responderá perante o Alto, sem a menor dúvida, pela fidelidade aos princípios doutrinários de tudo o que se divulga em nome do Espiritismo, seja na exposição oral, num livro ou simplesmente num folheto. O mesmo se diga relativamente àqueles responsáveis pelas associações intituladas “clube do livro”.

José Passini

passinijose@yahoo.com.br

Análise, Apreciação, Crítica (José Passini)

Qualquer obra ao ser exposta ao público fica sujeita à análise, à apreciação, à crítica, da parte daqueles que a examinam, seja ela uma escultura, uma música, uma pintura ou uma página literária.

No mundo da literatura, há até a atividade normal de pessoas que se especializam em crítica literária, exercendo-a, sem que os autores de artigos ou de livros sintam-se ofendidos por verem suas idéias, suas posições, ou opiniões serem analisadas, criticadas, contestadas, desde que através de linguagem compatível com a ética e com o respeito.

Esses trabalhos de crítica literária são, não raro, usados em estudos levados a efeito em academias de letras, ou em cursos universitários de língua e literatura, com real proveito para aqueles que se entregam ao aprendizado da arte de bem escrever, seja num Curso de Letras, seja num de Comunicação Social.

Tendo consciência de que haverá aqueles que analisarão e darão a público sua apreciação sobre aquilo que publica, o autor, por certo, preocupar-se-á com o que diz, e como o diz, ou seja, com o conteúdo e com a forma.

No meio espírita, infelizmente, isso não se dá. Atualmente, assiste-se a uma verdadeira avalancha de obras, na maioria mediúnicas, cheias de inovações, de revelações, de modismos, sem que haja espaço na imprensa espírita para uma apreciação séria, clara, fraterna, a respeito de conteúdos altamente duvidosos, que são levados a público como se fossem verdades reveladas. 

Paulo, a maior autoridade em assuntos mediúnicos nos tempos apostólicos, conforme se constata nos caps. 12 e 14 da sua Primeira Carta aos Coríntios, dentre outras orientações, recomenda: “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.”1 Sábio conselho, repetido reiteradamente mais tarde na obra de Kardec, destina-se à prevenção contra o deslumbramento, a vaidade, à atuação de Espíritos enganadores no intercâmbio mediúnico. Cuidado semelhante pode-se observar também em João: “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus; porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo.”2

Será que estamos esperando que aqueles que combatem o Espiritismo venham trazer a público certos absurdos que estão sendo publicados ante a comunidade espírita completamente silente, sem que tenhamos meios de demonstrar-lhes que certas “revelações” foram contestadas? Ou será que foi esquecido o brocardo: “Quem cala, consente.”? Será que Kardec não sairia hoje em defesa dos verdadeiros postulados espíritas? Ou calar-se-ia, receando desagradar pessoas? Onde podemos situar a recomendação de Erasto: “Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea.”3

A Federação Espírita Brasileira e várias outras editoras são entidades de utilidade pública e que, coerentemente com o que ensina o Espiritismo, não visam a lucros. Malgrado esses nobres exemplos, instalaram-se inúmeras editoras que aí estão a divulgar obras que contrariam frontalmente os postulados espíritas, através de publicações que, embora declarem serem os recursos obtidos destinados a entidades assistenciais – o que jamais deve influir na análise doutrinária das publicações – agem como entidades meramente comerciais, colocando o lucro acima do ideal da divulgação. 

O médium, autor material dessas obras, por vezes é pessoa bondosa, bem intencionada, até promotora de nobres atividades no âmbito da assistência social. Mas o seu trabalho nesse setor será suficiente para legitimar sua produção mediúnica, transformando-a em livros? Lamentavelmente, há aqueles que confundem caridade com pieguismo. Dizem que não se pode ir contra um irmão. Ninguém, em sã consciência deve criticar o autor, mas sim a obra. Aquele deve ser preservado, em nome do respeito que se deve ter para as suas boas intenções, mas esta deve ser analisada, dissecada. Essa maneira de agir aprende-se com Jesus, que nunca atacava o pecador, mas o pecado.

Nesse contexto, deve ser ressaltada a responsabilidade daqueles que dirigem estabelecimentos espíritas, sejam centros ou livrarias, no sentido de fazerem a devida seleção do material escrito divulgado no recinto da instituição. Muito maior do que a preocupação com o conteúdo da exposição oral, deve ser o cuidado com o material impresso entregue ao público, seja livro ou folheto avulso, pois um livro adquirido, ou tomado por empréstimo, numa instituição espírita – principalmente para o leigo –, será tomado como legítimo.

Entretanto, há dirigentes que se abrigam sob a capa de uma falsa caridade em relação aos autores. Omitem-se quanto a um cuidadoso exame, deixando de ler, ou de colocar nas mãos de irmãos responsáveis, para análise, muitas obras que estão aí a tentarem desmentir a seriedade da mensagem espírita, permitindo seja ela apresentada na forma de romances, relatos, “revelações”, em linguagem absolutamente não condizente com a seriedade e com a nobreza da doutrina que herdamos de Kardec.

 José Passini 
jose.passini@gmail.com      

  
1. I Co, 14: 29
2. I Jo, 4: 1


3. O Livro dos Médiuns, 230

COBRANÇA (José Passini)

 

                                                                                                    “... de graça recebestes, de graça  daí.”   Jesus (Mt, 10: 8)

Vez por outra, discute-se no meio espírita a questão do pagamento de taxa de inscrição para participação em eventos doutrinários. É tema delicado, que envolve muitas situações particulares e, às vezes, se choca frontalmente com opiniões até apaixonadas de alguns irmãos. Por isso, merece a atenção e a preocupação daqueles que se propõem ao trabalho espírita, mantendo as atividades sob a sua responsabilidade dentro dos parâmetros saudáveis que não são facilmente verbalizáveis numa lista de “permitido/proibido”, mas intuitivamente sentidos por todo espírita que busca agir com equilíbrio e bom-senso.
É imprescindível tenhamos cuidado constante, muita vigilância e apoio na oração, na busca de diretrizes do Alto, a fim de não levarmos o Movimento Espírita a incidir nos mesmos desvios sofridos pelo Movimento Cristão que, vagarosa e imperceptivelmente se tornou uma religião institucionalizada, hierarquizada, na qual o trato com valores monetários passou, da contribuição espontânea para assistência aos mais necessitados, à fixação de taxas disfarçadas sob vários nomes, encaminhadas para a manutenção do profissionalismo, construção de prédios e acumulação de riquezas.
Necessário se faz que nós, que abraçamos a Doutrina Espírita – e que temos a certeza inabalável da sua missão de reviver o Cristianismo na sua pureza, simplicidade e pujança originais – avaliemos as ações que estão sendo levadas a efeito na nossa esfera de decisão, com vistas aos reais objetivos do Espiritismo.
Entre os extremos de dar tudo de graça – inclusive livros – e cobrar entrada ou taxa de inscrição para palestras, simpósios, seminários, há um meio-termo ideal, ditado pelo bom-senso.
Mesmo no tocante ao livro, devemos tomar cuidado para que não se estabeleça uma comercialização exacerbada, em detrimento da qualidade das obras, como, lamentavelmente, já se vê. O produto da venda do livro espírita deve objetivar o ressarcimento dos custos, ou a manutenção de atividade social. Infelizmente, não é o que se constata em muitos casos, diante do alto preço de obras – algumas de qualidade duvidosa, sob o aspecto doutrinário – que têm sido lançadas no mercado ultimamente, muitas das quais vendidas em livrarias ou centros espíritas, cujos dirigentes, muitas vezes, tentados pela obtenção de recursos para melhoria de instalações para ou trabalho assistencial, deixam de examiná-las criteriosamente. Não estamos defendendo, com isso, o estabelecimento de um “index”. Só nos move a lembrança de que uma instituição espírita ao divulgar uma obra está – para a maioria das pessoas – dando-lhe aval doutrinário.
O ideal seria que as editoras fossem sociedades civis, dirigidas por conselhos não-remunerados, como acontece nos centros e outras entidades espíritas. Conforme as conveniências, os livros poderiam ser confeccionados em empresas especializadas e as entidades espíritas promoveriam a sua venda a preços capazes de apenas manter as editoras funcionando. Somente os profissionais dessas sociedades seriam assalariados para a prestação de serviços específicos, como existem em muitas entidades espíritas.
         Quanto ao pagamento de taxa de inscrição, há pessoas que argumentam não terem as casas espíritas fundos suficientes para cobrir despesas com viagem de expositores, aluguel de auditório, material de trabalho. Daí, argumentam, a necessidade da cobrança de taxa de inscrição.
Será que não há outros meios de se resolver o problema? Sempre chamamos a atenção de companheiros de ideal, dirigentes de casas espíritas, para o fato de necessitarmos de colaboradores financeiros, a fim conseguir recursos para o pagamento de despesas, como água, luz, telefone, material de limpeza, conservação do imóvel, etc. Há grupos espíritas que têm excesso de escrúpulos no sentido de pedir ao público em geral, levando o ônus financeiro a alguns poucos. Neste particular, lembramos Emmanuel, que aconselhou: “As obras espíritas devem ser mantidas com o pouco de muitos e não o muito de poucos.”
Concordamos que determinados eventos demandam grande movimentação financeira, entretanto cremos que há outros meios, que não sejam o de pura cobrança de taxa de inscrição ou ingresso. São procedimentos mais trabalhosos, mas parece-nos serem mais féis à maneira espírita de agir.
Por exemplo: planeja-se um seminário para algumas centenas de pessoas. Sabemos que há custos: material para estudo, pastas, e, às vezes, aluguel de auditório, serviço de som, etc. Nesse caso, por que não fazer um levantamento prévio dos custos e solicitar a contribuição sigilosa e espontânea daquele que se inscreve, alertando que, se todos pudessem pagar, o custo “per capita” seria tal, mas como nem todos dispõem de recursos, pede-se um pouco mais daqueles que podem doar.
Não se estaria assim evitando uma seleção de participantes com base no poder monetário?  Como ficaria a situação de uma família que, integrada no movimento espírita, não tivesse recursos para pagamento da taxa?
Alguém, num juízo apressado, poderá dizer que não dará certo, vez que as pessoas não estão preparadas para uma contribuição espontânea. Nesse caso, achamos que seria necessário inicialmente um longo trabalho educativo dessa comunidade, a fim de sensibilizá-la para o exercício da fraternidade cristã, o que significaria uma boa base para o posterior aproveitamento de seminários mais teóricos.
Se medidas como essas não derem certo, é porque aquela comunidade espírita ainda não está suficientemente madura para empreendimentos mais amplos. Carece-lhe base. Nesse caso, seria preferível a não-realização do evento. O prejuízo para a divulgação da Doutrina Espírita seria menor.                          
Lembremo-nos de que Paulo divulgava o Cristianismo viajando a pé, trabalhando em teares alugados, hospedando-se em casa de irmãos, falando diante de pequenos grupos. A divulgação do Cristianismo foi feita num trabalho de “contaminação” quase que de pessoa para pessoa. Não devemos perder isso de vista. Não desejemos trabalhos de “massificação” no Espiritismo. Sua maior propaganda é feita pelo testemunho de vivência pessoal dos espíritas. Lembremo-nos de que, durante mais de um século, o Espiritismo divulgou-se sem cobrança de inscrições e de ingressos e sem essa comercialização desvairada de livros... E divulgou-se muito, de maneira segura. E quando nos assalte a dúvida, é só olharmos para os imensos patrimônios materiais que os nossos predecessores nos deixaram e imaginarmos como eles conseguiram isso tudo.
                                                                                                                                              
                                                                                                                                     José Passini
                                                                                                                              Juiz de Fora MG           

                                                                                                      jose.passini@gmail.com

A Nova Literatura Mediúnica

José Passini “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.” Paulo (I Co, 14: 29)          As palavras de Paulo – ...