“Havendo Deus entendido de
lançar um véu
sobre o passado, é que nisso há vantagem.”
O E. s. E., cap. V, item 11
Vez por outra, recomendações de Jesus, de Kardec e
de Benfeitores Espirituais são deixadas de lado em favor de posicionamentos
pessoais apaixonados. Alguns poderão dizer que não se trata de palpite de
encarnados, vez que em mensagem recebida por médium conhecido e, recentemente,
em mais de um livro psicografado, foi feita a afirmação a respeito da volta de
Kardec na pessoa de Chico Xavier. No caso do famoso médium mineiro, a
recomendação, em epígrafe, se aplica por inteiro. Se houvesse interesse do
Mundo Maior em que fosse revelado o seu passado, os Espíritos poderiam já tê-lo
feito no momento oportuno. Mas, qual seria o objetivo de tal revelação? Em que
aumentaria a credibilidade do médium ou da mensagem espírita? Há muitos
encarnados e desencarnados que gostam de controvérsias. Tão logo desaparece
uma, providenciam outra.
Nesse particular, lembramos palavras de Emmanuel a
respeito de outras “revelações” levadas a efeito por Espíritos, na questão de o
Mestre ter vivido entre os Essênios, afirmativa que o Benfeitor nega: “As
próprias esferas mais próximas da Terra, que por força das circunstâncias se
acercam mais das controvérsias dos homens que do sincero aprendizado dos
espíritos desprendidos do orbe, refletem as opiniões contraditórias da
Humanidade, a respeito do Salvador de todas as criaturas.” (A Caminho da Luz,
cap. 12).
E o que dizer da “Saudação de Allan Kardec”,
psicografada por Júlio César Grandi Ribeiro, na noite de 2 de janeiro de 1984,
na comemoração do centenário da Federação Espírita Brasileira e da
transferência de sua sede para Brasília, conforme publicado no “Reformador” de
março de 1984? Bem, aqueles que quiserem continuar argumentando, sabemos que
poderão dizer o Chico poderia ter deixado seu veículo físico em Uberaba,
possivelmente psicografando àquela hora – era uma segunda-feira – e ter ido a
Brasília, fazendo toda uma revolução psicológica em si mesmo, a fim de
apresentar-se como Kardec... É fácil conciliar a figura viril de João Huss com
a de Kardec, mas torna-se difícil ver esse mesmo Espírito apresentar-se como
Francisco Cândido Xavier. Seria assim tão fácil para um Espírito fazer essa
verdadeira revolução psicológica de um momento para outro? Tome-se como exemplo
o desempenho de Elias, que se repete em João Batista, alguns séculos
depois.
Outro assunto controverso é o de André Luiz ter
sido Carlos Chagas, como querem alguns, agora reforçados em suas convicções por
“revelações”, trazidas por Espíritos desocupados, através de médiuns
invigilantes. Neste caso, o assunto toma caráter mais grave, diante do fato de
o famoso cientista ainda ter descendentes encarnados.
Mas, não bastasse o apelo ao bom-senso, seria fácil
verificar dados: Não é difícil calcular a época da desencarnação de André Luiz,
tomando-se por base suas conversas com Lísias: “Talvez não saiba ainda que sua
permanência nas esferas inferiores durou mais de oito anos consecutivos.”
(N.L., pág. 47). Em agosto 1939, André Luiz ouvia Lísias, que lhe falava sobre
a iminência da Segunda Guerra Mundial (N.L., pág. 132). Daí pode-se deduzir que
já estivesse desencarnado há, pelo menos, nove anos, vez que já estava
perfeitamente sadio. Por esse cálculo, ele deveria ter desencarnado, no máximo,
em 1930. Carlos Chagas desencarnou a 8 de novembro de 1934, aos 55 anos de
idade. Deve-se notar que André Luiz deve ter recebido o título de médico por
volta dos 25 anos, logo, se clinicou durante 15 anos, desencarnou com pouco
mais de 40. André Luiz declara que deixou na Terra um filho e duas filhas.
Carlos Chagas, dois filhos. Será que as informações contidas na obra “Nosso
Lar” não são verdadeiras?
Além do mais, André Luiz fica perfeitamente
caracterizado como clínico, médico de consultório, pelas palavras de Clarêncio:
“(...) nos quinze anos de sua clínica, também proporcionou receituário a mais
de seis mil necessitados. Verbalmente pede qualquer gênero de tarefa; mas, no
fundo, sente falta dos seus clientes, do seu gabinete, da paisagem de serviço
com que o Senhor honrou sua personalidade na Terra.” (N.L., pág. 81). Será que
Clarêncio teria cometido engano ao dizer isso?
Nessa referência ao seu trabalho na Terra, nada que
pudesse identificá-lo com o eminente cientista: pesquisador, bacteriologista e
sanitarista, que foi Carlos Chagas, que se dedicou à bacteriologia desde os
seus tempos de estudante. Cientista reconhecido mundialmente, foi professor da
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro; recebeu o título Magister Honoris Causa
das Universidades de Harvard e de Paris; pertenceu às academias científicas de
Nova Iorque, Paris e Lima; foi premiado com medalha de ouro pela Universidade
de Hamburgo (Prêmio Kummel); passou dois anos viajando pelo vale amazônico,
levantando a carta epidemiológica da região; à frente de campanha profilática,
erradicou a malária na cidade de Santos; foi Diretor do Instituto Oswaldo Cruz
de 1917 a 1934, quando desencarnou. (Grande Enciclopédia Delta Larousse).
Outro fato que contesta a afirmativa de André Luiz
ter sido Carlos Chagas é a causa mortis. André Luiz, conforme declarado no
livro “Nosso Lar”, desencarnou em consequência de um câncer no intestino,
depois de um sofrimento de quarenta dias. A desencarnação súbita de Carlos
Chagas se deu em função de um infarto do miocárdio.
É de se ver que a novidade anima tanto, a ponto de
esses que se põem a propalá-la se esquecem das palavras de Emmanuel, ao
apresentar André Luiz, no prefácio do livro “Nosso Lar”: “Embalde os
companheiros encarnados procurariam o médico André Luiz nos catálogos da
convenção. Por vezes o anonimato é filho do legítimo entendimento e do legítimo
amor (...). É por isso que não podemos apresentar o médico terrestre e autor
humano, mas sim o novo amigo e irmão na eternidade.” E tudo indica que o
anonimato não decorreu de decisão pessoal de Emmanuel, diante do que se lê na
obra “Voltei”, no final do cap. 2, referindo-se a André Luiz: “... o esforço
dele é impessoal e reflete a cooperação indireta de muitos benfeitores nossos
que respiram em esferas mais elevadas.”
Diante disso, seria de se perguntar: Quem
determinou fosse suspenso o anonimato? O que mudou no cenário terrestre para
que fosse revelada a identidade de André Luiz? Qual o benefício dessa pretensa
revelação, a não ser o de provocar discussões estéreis? Em que essas
“revelações” contribuem para o esclarecimento das pessoas?
Por que essa insana busca de saber quem foi André
Luiz, ao invés de estudar-lhe a obra? No cap. 10 do livro “Os Mensageiros”
encontra-se ”A Experiência de Joel”, médium dotado de extraordinária
sensibilidade, que dedicou-se exclusivamente à pesquisa de reencarnações
passadas, o que, além de nada ajudar na divulgação da Doutrina Espírita,
prejudicou-o profundamente, conduzindo-o ao grande desequilíbrio que levou para
o Mundo Espiritual, ao desencarnar.
Não seria melhor ocuparmos nosso tempo em reuniões
mediúnicas destinadas a esclarecer irmãos que sofrem? O Espiritismo não tem
como bandeira a caridade? Caridade para com desencarnados sofredores, para com
crianças que carecem de orientação espírita através da evangelização.
José Passini
Juiz de Fora MG
jose.passini@gmail.com
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