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O profetismo é prática milenar, conforme se
constata no verbete profeta, na Enciclopædia Britannica, na sua edição
original.
Quando se fala em comunicação com os mortos, há
dois pontos interessantes a serem observados: primeiro, há os que dizem ser tal
prática condenada “pela palavra de Deus”, citando a proibição contida no
Deteuronônio, cap. 18: 10 a 13. Em verdade, não se trata de “palavra de Deus”,
mas de recomendação pertencente à legislação mosaica; segundo, é interessante
atentar-se para o fato de que a proibição comprova efetivamente o intercâmbio
com os mortos, pois se existiu a proibição é porque existia o fato. É de senso
comum que uma legislação que regula ou proíbe algo sempre surge a posteriori, e
não a priori, ou seja, é feita sempre sobre um fato já existente. Logo, se
Moisés proibiu é porque existia.
Deve ser lembrado que a proibição de Moisés visava
a coibir o abuso daqueles que mantinham o intercâmbio, usando-o para fins
frívolos ou para a solução de problemas pertencentes à esfera das decisões dos
homens e não dos Espíritos. Diga-se, de passagem, que o Espiritismo – que não
proíbe nada – desaconselha o intercâmbio mediúnico para esses mesmos fins,
esclarecendo que Espíritos superiores não se envolvem nesses assuntos, tão ao
agrado de Espíritos frívolos e desocupados.
Há, também, aqueles que se baseiam na filosofia
tomista, que afirma a imortalidade da alma, mas que esta não tem vida plena sem
o corpo, considerando-o seu instrumento indispensável, a ser readquirido na
ressurreição, para o julgamento final. Não se sabe como Tomás de Aquino
explicaria o fato de dois Espíritos desencarnados, Moisés e Elias, sem corpo
material, terem conversado com Jesus, na presença de Pedro, Tiago e João (Mat,
17: 10 a 13)
Não vamos invocar o testemunho de cientistas que
pesquisaram o fenômeno mediúnico e produziram farto material bibliográfico a
respeito. Argumentaremos exclusivamente dentro da Bíblia, na tradução de João
Ferreira d’Almeida, da Sociedade Bíblica Britannica e Estrangeira, edição de
1937. Citamos o ano da publicação pelo fato de essa mesma tradução já ter
sofrido algumas “atualizações”.
No Velho Testamento, (I Sam, 28), sob o título
“Consulta à pitonisa de Endor”, vemos uma autêntica comunicação do profeta
Samuel, que fora, enquanto encarnado, conselheiro do rei Saul. Este, na
iminência de uma batalha, ressentindo-se da ausência do seu conselheiro, que
desencarnara, ordenou fosse procurada uma evocadora de espíritos. Aparece-lhe
Samuel, que o aconselha a não entrar na batalha contra os filisteus, sob pena
de morrerem ele e seus filhos. Saul, que não fora buscar conselho, mas apoio,
sentindo-se desamparado, caiu desmaiado. Embora seriamente advertido, entrou na
batalha, onde pereceu, juntamente com seus filhos.
No Novo Testamento (At, 16: 9), há o relato de uma
visita feita a Paulo, por um homem que, liberto do corpo físico pelo sono,
comunicou-se com ele: “E Paulo teve de noite uma visão, em que se apresentou um
varão da Macedônia, e lhe rogou, dizendo: Passa à Macedônia, e ajuda-nos.” Nos
versículos seguintes, vê-se que Paulo foi atender o pedido, vez que
encaminhou-se à Macedônia.
Em Atos (10: 30 a 32), está claramente relatada uma
comunicação de um espírito desencarnado, diretamente dirigida a um homem, sem
ao menos usar o corpo físico de um médium, conforme relato do centurião
Cornélio a Pedro: “Há quatro dias estava eu em jejum até esta hora, orando em
minha casa, à hora nona, e eis que diante de mim se apresentou um varão com
vestes resplandescentes, e disse: Cornélio, a tua oração foi ouvida, e as tuas
esmolas estão em memória diante de Deus. (...) e manda chamar Simão, que tem
por sobrenome Pedro: este está em casa de Simão o curtidor, junto do mar, e
ele, vindo, te falará.”
Pedro estava no terraço da casa de Simão o
curtidor, quando chegou a comitiva que viera convidá-lo. No momento em que
chegaram os enviados de Cornélio, Pedro recebe a seguinte orientação de um
Espírito: “Levanta-te pois, e desce, e vai com eles, não duvidando; porque eu
os enviei.” Essa comunicação foi oportuna porque Pedro não atenderia o chamado
de um romano, pelo fato de os discípulos de Jesus acreditarem, até àquela
época, que a mensagem de Jesus deveria ser divulgada somente entre os judeus.
Outra comunicação de Espíritos se deu com as
mulheres que foram preparar o corpo de Jesus para a sepultura, na manhã daquele
memorável domingo: “E, entrando, não acharam o corpo do Senhor Jesus. E
aconteceu que, estando elas perplexas a esse respeito, eis que pararam junto
delas dois varões, com vestidos resplandescentes (...) lhes disseram: Por que
buscais o vivente entre os mortos?” (Luc, 24: 3 a 5)
É interessante notar que os Espíritos, em vários
relatos no Novo Testamento, apareceram com vestes resplandescentes, talvez para
que não ficassem dúvidas de que se tratava mesmo de espíritos desencarnados.
A comunicação recebida pelo Centurião Cornélio
também demonstra esse mesmo o cuidado observado pelo Espírito comunicante,
conforme se depreende do relato do romano a Pedro, na passagem acima citada.
O Apóstolo Paulo – a maior autoridade em assuntos
mediúnicos nos tempos apostólicos – deixou instruções seguras a serem seguidas
por aqueles que pretendessem estabelecer o intercâmbio, como se lê na sua
Primeira Carta aos Coríntios: “Segui a caridade, e procurai com zelo os dons
espirituais, mas principalmente o de profetizar.” (14: 1) Num trecho desse
mesmo capítulo, que o tradutor intitula: “A necessidade de ordem no culto”,
está perfeitamente caracterizada uma reunião mediúnica, para a qual Paulo dá
orientação segura, no sentido de preservar a objetividade, precavendo-se contra
o estrelismo dos médiuns: “E se alguém falar língua estranha, faça-se isso por
dois, ou quando muito por três, e por sua vez, e haja intérprete.” (27) E, a
fim de evitar o deslumbramento, deixa outra recomendação: “E falem dois ou três
profetas e os outros analisem.” (29) No capítulo 12, descreve os vários tipos
de mediunidade, como seja, a psicofônica, a de falar línguas estranhas, a de
cura e até a intuitiva – a ser exercitada pelo dirigente da reunião mediúnica
–, que ele intitula “o dom de discernir os espíritos”.
Cumpre notar, também, que Jesus não disse uma
palavra sequer no sentido de condenar a comunicação com os mortos, pois seria
uma incoerência, diante do fato, citado acima, narrado por três Evangelistas
(Mt, 17: 10 a 13; Mc, 9: 2 a 13; Lc, 9: 28 a 36), que se referem ao diálogo que
Jesus manteve com dois desencarnados: Moisés e Elias, na presença de Pedro,
Tiago e João.
A Enciclopædia Britannica diz que profeta em Grego
clássico quer dizer “aquele que, ao falar, não o faz pelos seus pensamentos,
mas por uma revelação de fora. Cita Platão: “Não devem ser chamados profetas
aqueles que simplesmente interpretam oráculos.
Em verdade, em todo o Novo Testamento não há uma
linha sequer condenando a comunicação com os mortos. A literatura existente
nesse sentido provém das interpretações equivocadas de teólogos que veem os
fatos como lhes convém.
Além do mais, não há mortos, mas apenas Espíritos
encarnados e desencarnados.
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