A publicação de livros
mediúnicos tem crescido vertiginosamente. Na primeira década deste milênio, o
volume aumentou de modo a chamar atenção de muitos médiuns e a excitar o desejo
de lucro, da parte de determinadas editoras. Entretanto, paralelamente a esse
crescimento editorial, a qualidade decresceu na mesma proporção. Há livros cuja
tônica é o ataque sistemático a dirigentes espíritas e ao ingente trabalho de
Unificação. Outros, se constituem em descrições mórbidas de zonas espirituais
inferiores, com detalhamento de monstruosidades, do poder das Trevas, sem
apontar caminhos e soluções para tal estado de coisas. Alguns há que trazem
sutis mensagens de desvalorização do estudo, do esforço de auto-aprimoramento,
veiculadas em linguagem pretensamente psicológica, conducente ao desencanto. Há
ainda outros que, num discurso estéril, como arqueólogos espirituais, se lançam
à pesquisa de quem foi quem, provocando discussões que só contribuem para o
descrédito da Doutrina ante aqueles que dela se aproximam em busca de
esclarecimento. Nisso, demonstram nunca terem lido as advertências veiculadas
no trecho “O Esquecimento do Passado”, no cap. 5 de “O Evangelho segundo o
Espiritismo”, nem tampouco o cap. 10 de “Os Mensageiros”, de André Luiz, que
mostra os prejuízos sofridos por um médium que se deixou levar por essas
pesquisas do passado, nelas enovelando-se e perdendo a sua encarnação.
Diante disso, pergunta-se: Por
que esses Espíritos que agora fazem publicar tantas "revelações"
fantasiosas a respeito da vida espiritual, relatando ambientes grotescos,
aterrorizantes, pueris e mesmo cenas ridículas, levando muitos incautos à
formação de quadros mentais negativos, por que não desenvolvem os palpitantes
assuntos tratados por Kardec na Terceira Parte de “O Livro dos Espíritos”, as
chamadas “Leis Morais”? Será por falta de conhecimento ou de talento? Há todo
um manancial de temas a serem examinados à luz do Espiritismo nessa parte da
obra, que poderia ser intitulada Sociologia Espiritual. Por que não apresentam
estudos comparativos entre a sociedade terrena e as diferentes organizações
sociais existentes no Mundo Espiritual? Por que não desdobram os ensinamentos
trazidos por André Luiz a respeito da interação Mundo Físico e Mundo
Espiritual, conforme descrito em suas obras, notadamente em “Os Mensageiros”,
detalhando o trabalho levado a efeito, na Terra, pelos Espíritos desencarnados
com a colaboração de encarnados libertos pelo sono físico? Será que a esses
médiuns e aos Espíritos que por eles se comunicam escapa-lhes a consciência do
objetivo principal da Doutrina Espírita, que é a revivescência do Evangelho de
Jesus aplicado à vida diária como fator educativo do espírito imortal?
Entretanto, o que mais se vê são relatos medíocres, fantasiosos, com pretensões
de serem revelações ou romances.
Outra vertente muito explorada
por Espíritos e médiuns pouco preocupados com a educação moral é a tão falada
transferência, para outro planeta, dos Espíritos que não assimilaram princípios
básicos de fraternidade. Esse planeta, como se fosse uma nave espacial, deveria
aproximar-se da Terra a fim de buscá-los. Baseiam-se no fato de a Terra ter
recebido, há milhares de anos, um grande contingente de Espíritos vindos de um
planeta do sistema Cabra ou Capela, conforme descrição de Emmanuel na obra “A
Caminho da Luz”. Mas os Espíritos que fazem os relatos atuais se esquecem de
que a nossa Terra não se deslocou de sua órbita para, como um ônibus, para ir
lá buscá-los. Afirmativas como essas constituem-se em verdadeiras heresias
astronômicas, que são feitas em detrimento do bom senso e da seriedade da
Doutrina dos Espíritos.
Por que, em vez de fazerem
esses relatos fantasiosos, esses Espíritos não promovem uma campanha no sentido
incentivar a educação da juventude, discutindo temas como a sexualidade à luz
do Espiritismo? Por que não discutem a responsabilidade na constituição de um
lar, a vida em família, o encaminhamento dos filhos? Por que não incentivam a
evangelização da infância, a ser levada a efeito no lar e no centro espírita?
Por que não dão notícias detalhadas da vida daqueles que desencarnaram ainda na
fase infantil? Por que não incentivam o Movimento Espírita a dar mais atenção
ao Espírito recém-encarnado, portanto necessitado de orientação, invés de
ficarem descrevendo cenas mórbidas de que teriam participado antes da sua
encarnação? É bem verdade que a resposta recebida por Kardec, conforme o item
383 de “O Livro dos Espíritos”, ainda não ecoou suficientemente nas
consciências de muitos daqueles que dirigem comunidades espíritas em todos os
níveis: "Encarnando, com o objetivo de se aperfeiçoar, o Espírito, durante
esse período, é mais acessível às impressões que recebe, capazes de lhe
auxiliarem o adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de
educá-lo." Então por que esses Espíritos, que se dizem tão interessados em
esclarecer, não encetam uma campanha no sentido de ajudar os recém-encarnados?
Por que esperar que ele se
torne adulto, que erre, para depois tentar convencê-lo dos valores do
Evangelho? Ou, então, aguardá-lo à mesa mediúnica, na condição de sofredor
resgatado de zonas umbralinas?
É importante que se estude a
obra de Kardec e de médiuns verdadeiramente afinados com os ideais do
Espiritismo, ideais esses que estão muito acima da obtenção de lucro com a
venda indiscriminada de obras ditas espíritas, como se o Centro Espírita, a
Livraria Espírita, ou o Clube do Livro Espírita tivessem por finalidade única a
obtenção de recursos financeiros a qualquer preço. Lembremo-nos de que o
sucesso de um centro espírita não deve ser medido pela quantidade de passes que
dá, nem pelo volume de água fluidificada que produz, nem pela quantidade de
roupas ou alimentos dispensados, mas pelo número de Espíritos encarnados e
desencarnados que encaminha rumo ao Bem, conforme ensinado e exemplificado por
Jesus.
José Passini
jose.passini@gmail.com
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