Análise do livro Infinitas Moradas, de autoria de Carlos A.
Baccelli.
Comentaremos alguns trechos que nos pareceram estranhos,
submetendo-os aos leitores, a fim de que avaliem as afirmativas contidas na
obra, à luz da Doutrina Espírita.
Não se trata de uma análise completa, de todos os pontos que nos
pareceram equivocados. Nessa obra há determinadas afirmativas e situações,
cujos comentários nos levariam a um trabalho muito mais extenso, que tomaria
quase as proporções de um outro livro.
Para maior facilidade, transcreveremos em negrito os
trechos do livro, seguidos de nossos comentários, em letra normal.
— Então, Inácio,?... como é que você vem sentindo a repercussão do
seu novo trabalho literário entre os companheiros da Terra?
— Não estou lá para receber as críticas diretamente... por esse
motivo, de certa forma, a minha posição é cômoda. Lamento apenas pelo
instrumento mediúnico, que fica exposto a tantas opiniões
desencontradas... (11-12)
Mas a crítica dos confrades é a que nos incomoda, concorda?
— Plenamente, pois, em maioria, não são fraternas e escondem
outros interesses... Perdoe-me Odilon, mas você me conhece bem: estarrece-me a
estreiteza de raciocínio de tanta gente... O que eu lhes tenho dito, em minhas
obras, não são nem dez por cento do que gostaria. Eu não me intimido, mas a
pressão sobre o médium, que, diga-se de passagem, freqüentava a minha casa
desde a juventude, chega a ser impiedosa... (12-13)
Em todas as suas obras, o Dr. Inácio faz defesa dele próprio e do
médium, ao tempo em que ataca aqueles que não lhe aceitam as idéias: “estarrece-me
a estreiteza de raciocínio de tanta gente...”
Através de quem se processa essa pressão impiedosa a que ele se
refere? Será a análise de suas obras? Não se lê, em lugar algum,
referências desairosas ao seu médium. O que se tem visto são exames
doutrinários, infelizmente em número muito reduzido, mas redigidos em linguagem
respeitosa, sem qualquer referência menos fraterna, nem a ele, nem ao médium.
Entretanto, o mesmo não se dá quando o Dr. Inácio se refere aos espíritas em geral,
e aos médiuns em particular: ataca-os, numa linguagem agressiva, usando
qualificativos incompatíveis com a sua condição de Espírito orientador que,
além dos 50 anos de Doutrina Espírita na Terra, já contava com mais de 15 no
Mundo Espiritual, conforme o livro “Do Outro lado do Espelho”: “–
O espírita tem a mania de se julgar sempre com a verdade.” (16) “— Nós,
os considerados mortos, em matéria de mediunidade temos que nos contentar com
percentagem: 30% nossos, 70% do médium... Quando, pelo menos, são 50% para cada
lado, vá lá... Raro o médium que nos permite o empate. Isso sem falarmos nos
médiuns que vivem colocando palavras inteiramente suas em nossos lábios: é um
tal de termos dito, sem termos dito nada... (...) Os médiuns hoje querem
improvisar... Quanta mistificação!...” (160)
Esse, o modo como se refere aos médiuns com quem trabalhou, no
Sanatório...
A título de comparação, deve ser lembrado que ao ser publicado
“Nosso Lar”, houve um grande impacto no meio espírita, que suscitou comentários
os mais variados. Mas, nem na obra seguinte, “Os Mensageiros”, nem nas
subseqüentes, André Luiz fez qualquer referência àqueles que tinham dificuldade
em aceitar-lhe as revelações. Nada comentou sobre o que pensavam ou falavam, na
Crosta, sobre o que escrevera. É a postura de segurança, própria dos que estão
com a Verdade.
— A continuar assim – perguntei –, é de se temer pelo futuro da
mediunidade, não? Como é que faremos? Por outro lado, noto que a maioria dos
médiuns que perseveram, principalmente no campo da produção literária, é
incentivada por escusos interesses... (31)
Sempre o discurso desencorajador a respeito da mediunidade.
Desencorajador e desrespeitoso, porque lançado a esmo, de maneira
irresponsável. Quais são esses interesses escusos? É uma acusação leviana,
escudada no anonimato, não do autor, mas dos acusados, o que dá na mesma. Não
se nota nenhum pronunciamento dessa natureza, ao longo dos anos, feito por
Espíritos como Bezerra de Menezes, Emmanuel, André Luiz, Manoel Philomeno de
Miranda, Joanna de Ângelis, Camilo e tantos outros. Será que a Espiritualidade
Superior conviveu com o erro, sempre calada, e agora o Dr. Inácio foi eleito o
arauto da verdade? Será essa a maneira de se advertir algum irmão que labora em
equívoco, ou será como está em inúmeras mensagens de alertamento da lavra de
outros Espíritos? Esse tom panfletário é muito diferente do conteúdo dos caps.
de 6 a 12 da obra “Os Mensageiros”.
— Não, eu não quero que o senhor concorde comigo; aliás, eu quero
que o senhor me conteste... Eu não gosto de quem me passe a mão na cabeça...
Está vendo? O senhor está me tolerando, mas não está nem aí... Quando eu
estiver falando, quero que o senhor me olhe nos
olhos...
— Estou olhando, Desidério – disse, fazendo o possível para não explodir.
— Pode falar... Estou com conjuntivite; cheguei há pouco da Terra e, como
sempre, havia muita fumaça lá embaixo... (...) (87)
Assim que ele se retirou, fazendo um esforço imenso para me
controlar, pedi ao jovem enfermeiro que me chamasse, às pressas, o Manoel
Roberto ao consultório. (90)
Essa, uma entrevista com um paciente, desenvolvida ao longo de uma
conversa sem sentido, sem nenhum ensinamento, a não ser a revelação de que
depois de desenvolver uma conjuntivite, a partir de uma contaminação adquirida
na Terra, um psiquiatra do Mundo Espiritual, diretor de um hospital, quase se
descontrolou ao final de uma conversa vazia, que tomou cinco páginas de um
livro...
— A aquisição de novos hábitos demanda tempo... A não ser pelo seu
desempenho, o espírito só se transforma pela Graça Divina, da qual necessitamos
nos fazer merecedores. Enquanto não recebemos do Alto o que escapa à
possibilidade dos homens, continuemos no processo de nossa reeducação, vertendo
suor e lágrimas na construção de boas obras. (130)
Essa afirmativa é controversa, pois diz que a transformação do
Espírito se dá pelo seu desempenho ou pela Graça Divina, esta obtida através do
merecimento. Logo, para ter merecimento o Espírito tem que ter bom desempenho.
A seguir, diz que devemos continuar nos reeducando, enquanto aguardamos o
recebimento do Alto daquilo que escapa à possibilidade dos homens.
Essa confusão entre lei do mérito e Graça Divina é própria de quem não tem nada
a dizer e quer encher páginas de livro.
— Meu filho, mande os espíritas moralistas às favas; ninguém tem
nada a ver com a sua vida e nem com a minha...” (131)
— A hipocrisia dos espíritas moralistas há de custar muito caro a
eles mesmos! (132)
Sempre o mesmo palavreado vulgar e os ataques aos espíritas. Que
quer ele dizer com “espíritas moralistas”? Hoje, criaturas revoltadas,
inconformadas, rebeldes lançam, de modo intencional, a confusão – até nos meios
educacionais – entre subserviência e humildade; entre repressão e disciplina;
entre moralismo e moralidade, tachando pejorativamente de moralismo toda e
qualquer tentativa de se vivenciar, no dia-a-dia, a ética, a dignidade humana
ensinada no Evangelho de Jesus.
— De acordo, Inácio, com as informações que me chegaram, o
ex-Arcebispo foi visto caminhando na direção do Vale das Religiosas e, por esse
motivo, creio que ele tenha caído em poder delas. Necessitamos nos apressar,
antes que elas o torturem e lhe arranquem os olhos...
— Arrancar os olhos?!... – questionou Manoel Roberto ao meu lado.
— Sim, elas poderão induzi-lo à cegueira e, neste caso, nada
poderemos fazer.
— Ele ficará cego?...
— Com os órgãos visuais irreversivelmente lesados, comprometendo o
seu futuro estágio no corpo de carne...
— Isso é possível? – tornou Manoel a perguntar.
— É claro que sim – respondeu Odilon –; por mais absurdo nos possa
parecer, é claro que sim!... O corpo espiritual é suscetível de ser lesionado
tanto quanto o corpo somático. (146 - 147)
De acordo com o que foi dito anteriormente, esse arcebispo teria
hipnotizado um guarda para fugir. Que preparo tinha esse guarda? Por que se
dirigiria ele a um lugar onde se colocaria em perigo? Será que ele não sabia?
Nas obras de André Luiz fica-se sabendo que as colônias espirituais organizadas
no Bem têm guardas, mas muito bem preparados. (N.Lar, cap. 31) Se o arcebispo
fugiu do hospital, como pôde sair da colônia onde o hospital se situa? Mas,
como o Dr. Odilon já sabia que as religiosas iriam não só torturá-lo, mas
também arrancar-lhe os olhos? Mesmo que lhe produzissem cegueira, ele não se recuperaria
antes de sua próxima encarnação? E os que desencarnam cegos, amputados, como se
recuperam no Mundo Espiritual? Além do mais, a cegueira não teria decorrido de
um estado consciencial negativo, mas da ação de outros Espíritos...
— Ser-nos-ia possível encontrar doadores por aqui? – insisti, já
quando alcançávamos as portas do hospital.
— Em nossos laboratórios de pesquisa médica, que não ficam
localizados por aqui, os cientistas desencarnados conseguem, com quase absoluta
precisão, reproduzir, tecnologicamente, determinados órgãos que nos sobrevivem
no corpo espiritual; o globo ocular é um deles. (178
– 179)
Se existisse, realmente, transplante de órgãos no Mundo
Espiritual, será que o Dr. Inácio – depois de desencarnado há quinze anos – não
saberia? Além do mais, essas “próteses” perispirituais contrariam tudo o que se
aprendeu até agora acerca da dinâmica do perispírito.
— Como é que ela se chama? – perguntei com o coração aos saltos.
— Iaporé!...
Confesso-lhes, sem exagero, que tive que me escorar em Manoel Roberto, para não
desfalecer.
— Iaporé? – insisti, não acreditando.
— Sim, ela teria morrido procurando o filho que se perdeu na mata; de tristeza,
nunca mais quis voltar para a tribo...
— Meu Deus! – exclamei com as idéias turbilhonando. — Não é possível, Odilon!
Deus deve estar brincando conosco...
O nosso Pai nunca brinca, Inácio, com coisas tão sérias assim... – redargüiu
Odilon, com bondade.
Praticamente aos berros, sem que ninguém entendesse nada, muito
menos Hulda, que, certamente, me tomou por um demente a mais naquele hospital
em que tudo acontecia com tanta velocidade, deixei-os e caminhei pelos
corredores, chamando com insistência: (182 – 184)
Digna de nota é a fragilidade do Dr. Inácio, médico psiquiatra,
diretor de um hospital: quase desmaia ao ouvir o nome que uma das enfermeiras
do seu hospital tivera em encarnação anterior. Depois, acha que Deus está
brincando com ele, simplesmente por dar-lhe a oportunidade de identificá-la. A
seguir, ao invés de, serenamente, solicitar a um auxiliar que fosse chamá-la,
sai à sua procura praticamente aos berros. Note-se que o Dr. Inácio
não tem nenhuma ligação afetiva com essa criatura. Imaginemos se ele reencontrasse
o seu avô, como André Luiz encontrou o seu, conforme relato no livro “No Mundo
Maior” (cap. 18), como reagiria?
— Do jeito que andam as coisas na Terra e sobrando espíritos aqui,
a qualquer hora a gente reencarna e não fica nem sabendo: quando acordar
chorando no berço, não se pode fazer mais nada...
— O senhor tem cada uma! – disse Manoel, acostumado às minhas
esquisitices. (193)
Esse diálogo estranho se deu depois que o Dr. Inácio acordou de um
pesadelo, em que teria reencarnado. Como soam essas brincadeirinhas aos ouvidos
daqueles que estão ingressando no Espiritismo, ávidos de informações sérias? O
que se pode aproveitar desses livros que se constituem numa seqüência de
relatos entremeados de gracinhas e de banalidades? Quando nos assalte qualquer
dúvida sobre a validade dos livros do Dr. Inácio, é só consultar a obra de
André Luiz e verificar a seriedade e a profundidade com que são tratados os
assuntos, devidamente separados em capítulos, cujos títulos indicam a matéria
neles contida.
— Porque o Matusalém está aí fora...
— O Matusalém, aquele velho?!
— Não o da Bíblia, Doutor.
— É – ironizei –, pois eu pensei que fosse; mande-o
entrar... Morri, mas continuo sem saber o que sou: se médico ou
paciente, espírita ou – Deus me livre! – padre confessor...
Matusalém – permitam-me esclarecer-lhes – é como chamamos um dos
espíritos mais velhos que conheço no Mundo Espiritual – há mais de 300 anos não
reencarna e não há quem o faça mudar de idéia... Bem, pelo menos, não fazia.
– Olá, meu velho amigo! – disse, estendendo-lhe a mão. — A que
devemos a honra de semelhante visita?
— Eu queria, Doutor, conversar um pouco; acho que, ultimamente,
ando com a cabeça meio fraca...
— O que está havendo? Não me diga que se apaixonou!...
— Não troce comigo, Doutor; o senhor sabe que eu sempre vivi
isolado – morei muito tempo sozinho, afastado da civilização...
— Dos vivos e dos mortos, não é?
— Sim; eu não me interesso por gente... Gosto de viver no meu
canto, sem ser incomodado. (...)
— Deixe-me contar tudo direitinho. Eu vivo perto daqui e ninguém
se incomoda comigo; os espíritos que vagueiam sem rumo sabem que nada tenho e
muitos deles até me tomam por louco... De fato, às vezes eu tenho reações
furiosas.. Apesar de velho, sou um homem forte e a minha mão é pesada. Pois
bem, tempos atrás, não sei precisar quando, as coisas começaram a mudar. Quando
fui buscar água na bica, apareceu-me uma morena que eu nunca tinha visto por
estas bandas...
— Uma morena?! – aparteei, não contendo a imensa vontade de sorrir
e... adivinhando o resto da história.
— Ela puxou conversa comigo e não sei por quê eu a senti tão
indefesa!...
— Eu sei!
— O senhor a conhece?
— Não, não é o que estou querendo dizer... Prossiga, Matusalém.
— Doutor, eu nunca me apaixonei, mas ... Eu não sei. Alguma coisa
grave aconteceu comigo. A voz dela soou aos meus ouvidos como se fosse música
e... Fiquei hipnotizado. Ao invés de sair correndo, não; dei prosa para ela e a
coisa foi ficando pior... E o sorriso dela, então? (239
– 242)
O trecho é por demais estranho: Como é diferente a organização
desse “mundo espiritual” do Dr. Inácio, comparando-se com os relatos de André
Luiz, de Otília, de Manoel Philomeno. Como conciliar aquele clima de seriedade,
responsabilidade mostrada em “Nosso Lar” com essa informalidade desse plano
habitado pelo Dr. Inácio? É só lembrar do nível da conversa do Ministro
Clarêncio com aquela irmã a quem recebeu no seu gabinete (cap. 13) e esse
bate-papo do Dr. Inácio com Matusalém. Como pôde ficar esse Espírito durante
300 anos morando nos arredores da colônia espiritual a que pertencia o hospital
do Dr. Inácio? E esse Espírito pediu uma entrevista como alguém que marca uma
consulta na Terra? Diz que resolveu reencarnar para acompanhar alguém por quem
se apaixonara, como se tudo estivesse ao seu alvitre. E o Dr. Inácio fazendo
chiste o tempo todo... Nota-se agora, o esforço desse Espírito, que já deixou
tantas mensagens de descrédito à mediunidade, tentando desacreditar também a
reencarnação.
Por exemplo, não anda longe o tempo em que a Medicina descobrirá
certa similaridade, no que se refere à forma exterior, dos legumes e dos frutos
com os órgãos do corpo humano, características indicativas de que tais frutos e
legumes são altamente benéficos aos órgãos que lhe correspondem...
— Como no caso do tomate e da próstata?...
— Exatamente – esclareceu o Dr. Hélio Angotti, ultimando
preparativos. (254)
Por que, o Dr. Inácio, um psiquiatra com mais de meio século de
experiência na Terra, com mais de quinze anos de psiquiatria no Mundo
Espiritual, não aborda questões referentes à sua especialidade, dando
continuidade às discussões de temas levantados por ele enquanto encarnado,
fazendo assim uma ponte entre a psiquiatria praticada dentro dos parâmetros
materialistas e aquela vivenciada por ele na atualidade? Como aquele psiquiatra
que deu grande contribuição à sua especialidade agora se propõe ao endosso de
idéias como essas acima?
José Passini – Juiz de Fora - passinijose@yahoo.com.br
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