José Passini
O livro, à semelhança de todos os outros recebidos por Baccelli, tem forma
impecável quanto à língua portuguesa, não se detectando nem mesmo erros de digitação.
Mas, o seu conteúdo apresenta pontos que merecem atenção especial do leitor
realmente interessado em informações consentâneas com a Doutrina Espírita.
Em nosso trabalho, transcreveremos os trechos que nos chamaram mais a atenção, em
itálico, fazendo em seguida os comentários:
“Excetuando
a mim, evidentemente, eu não sei o que seria dos homens na Terra sem a
abnegação dos anônimos seareiros da Espiritualidade, sem uma mãe ou um pai ou
um irmão que vença a barreira das dimensões diferentes e volte para estender as
mãos aos que prosseguem lutando na retaguarda! Sinceramente, eu não sei o que
haveria de ser dos próprios espíritas sem o estímulo dos companheiros que já
realizaram a Grande Travessia!...” (21)
Para que esses anônimos seareiros da Espiritualidade possam
comunicar-se é necessário que seja por via mediúnica. Mas como poderá haver
comunicação confiável, se ele próprio já fez as seguintes acusações aos médiuns
do Sanatório que dirigiu, conforme relata na sua obra “Do Outro lado do
Espelho”?: – O médium me acolhe, me agasalha, abre a boca e só deixa
passar o que não conflita com os seus pensamentos. Sendo assim, o que
vou fazer lá? Passar raiva? Passar raiva, eu passava na condição de
doutrinador, de dirigente dos trabalhos mediúnicos do Sanatório, que fui por
mais de cinqüenta anos... (159 / 160) – Nós, os consideramos
mortos, em matéria de mediunidade temos que nos contentar com percentagem: 30%
nossos, 70% do médium... Quando, pelo menos, são 50% para cada lado, vá lá...
Raro o médium que nos permite o empate. Isso sem falarmos nos médiuns que vivem
colocando palavras inteiramente suas em nossos lábios: é um tal de termos dito,
sem termos dito nada... (...) Os médiuns hoje querem improvisar... Quanta
mistificação!... (160)
“...
poucos são os medianeiros com os quais, efetivamente, podemos contar no serviço
de esclarecimento: a maioria trabalha atendendo aos próprios interesses e às
suas ambições pessoais.” (19 - 20)
O ataque aos médiuns tem sido uma constante nas obras do Dr. Inácio Ferreira.
Já que esse Espírito quer alertar, por que fica só na crítica? Por que não faz
como André Luiz que nos mandou advertências mas também orientações? Algumas
obras tratam especificamente de mediunidade, como: “Desobsessão”, “Nos
Domínios da Mediunidade”, além de outras, onde há referências, sempre no
sentido de orientar e não simplesmente criticar. Limitamos nosso comentário às
obras recebidas por Chico Xavier, por ser ele o único médium a que o Dr. Inácio
se refere.
“Mesmo
dentre os que residem em nossas cidades de além-túmulo raros os que revelam
certa preocupação com o futuro: continuam vivendo como se quase nada se lhes
tivesse alterado ao redor e pouco se interessam pelo que ficou para trás,
inclusive suas relações de afeto. Pode lhes parecer estranho o que dizemos, mas
assim é: em muitos espíritos, a morte do corpo só faz acentuar a indiferença de
seus sentimentos.”(21)
Essa afirmativa contraria frontalmente o que ensinam os Espíritos através de
outros médiuns, a começar por Francisco Cândido Xavier. As obras de André Luiz
mostram exatamente o contrário: o trabalho que deve ser feito com os
recém-desencarnados, no sentido de que não voltem imediatamente aos locais onde
passaram seus dias e também que adiem o encontro com familiares e outras
afeições.
“Eu
já me havia habituado a circular por ali e, portanto, o fazia sem qualquer
receio, mesmo quando o Manoel Roberto ou um outro auxiliar não me estivesse
acompanhando.” (22)
Será que haveria o perigo de ataque da parte de algum interno? Ou será que o
Dr. Inácio busca pôr em relevo a sua coragem, como sempre o faz? Em “Nosso
Lar”, aprendemos que os Espíritos desequilibrados, recolhidos às Câmaras de
Retificação, ficam em suas enfermarias, não se registrando casos de risco para
alguém que circule pelos corredores. Alguém poderá argumentar, dizendo que os
internados em Nosso Lar são menos agressivos, mas, nesse caso, os pacientes do
Dr. Inácio deveriam – por questão de bom-senso e ordem, sempre presentes em
instituições organizadas no Bem – ficar confinados, de modo a não oferecerem
risco a ninguém, nem obrigarem os médicos a se fazerem acompanhar de guarda-costas.
“O silêncio era quase total, só interrompido pelo serviço de enfermagem que
velava pelos internos da instituição que eu fora chamado a dirigir.” (22)
Não só nesta obra, mas também em outras, nota-se o desejo claro de mostrar-se
sempre como dirigente, embora, noutras ocasiões, aparente modéstia.
“Comigo nunca precisará se desculpar; o senhor é um dos poucos que me
inspiram respeito e em cuja presença me sinto aliviado..”. (23)
“
— Nunca mantive com alguém um diálogo assim; não me julgava capaz... Eu vivia
me escondendo, a sós com minhas vozes e visões...” (29)
“Ora, Inácio –
respondeu-me com intimidade –, eu jamais me aborreceria com você. Afinal, o seu
coração não tem tamanho!... Sei que você sempre age levado pelo impulso de
ajuda. (262)
Ao longo do livro, o
Autor transcreve sempre referências elogiosas à sua pessoa.
“Acordando
mal-humorado, respondi ao cumprimento de Manoel Roberto com um simples muxoxo e
fui direto para o meu gabinete.” (30)
É difícil crer que alguém que foi colocado por Eurípedes Barsanulfo à frente de
um hospital psiquiátrico no Mundo Espiritual ainda tenha crises de mau-humor.
“
— Pior que isso, Manoel – creio que o Odilon concordará –, é quando nos
desfiguram os comunicados... Infelizmente, eu já tive que deixar médium falando
sozinho! Muitos, à minha revelia, colocaram palavras nos meus lábios...” (42
- 43)
O trabalho, ora sutil, ora escancarado de desacreditar a mediunidade é
facilmente detectável. Em todas as obras, o Dr. Inácio ataca os médiuns. É de
se observar o subsídio que esse Autor fornece àqueles que procuram desacreditar
o fenômeno mediúnico. Se um Espírito esclarecido, a ponto de ser diretor de um
hospital no Mundo Maior, não é capaz de verificar, antecipadamente, através de
que categoria de médium vai comunicar-se, sendo compelido a deixar sua mensagem
a meio...
“
— Concordo em gênero, número e grau – afirmei, não contendo a própria
indignação.” (61)
“ —A pretexto de se lutar contra o terrorismo internacional – opinei indignado
–, mais uma guerra que o homem trava em nome de Deus; hegemonia política,
fanatismo religioso...” (63)
Onde a serenidade de um diretor de hospital psiquiátrico? Sempre indignado!
“Talvez
os nossos companheiros no corpo estranhem, mas o fato é que nem todos os
espíritos que nos rondam a instituição se revelam em condições de serem amparados
por nós, sendo que muitos simplesmente recusam se internarem em um nosocômio de
orientação espírita; o preconceito e o fanatismo, como tantas outras mazelas do
ser humano, igualmente sobrevivem à morte e prosseguem lhes entravando o
progresso...” (69 - 70)
Causa estranheza a localização desse hospital, que parece não estar situado
numa colônia espiritual, mas em plena zona de sofrimento, como unidade isolada,
com espíritos desequilibrados a rondá-lo. É estranho, também, o fato de ser um
hospital espírita. Quais as características que o distinguiriam de outros
hospitais citados na literatura mediúnica de vários autores? Sabemos que há
comunidades sectárias, que assim permanecem exatamente pela falta dos
esclarecimentos que a Doutrina Espírita propicia à criatura, alargando-lhe os
conceitos de filiação a um único Deus e, conseqüentemente, ampliando-lhe os
horizontes de fraternidade.
Teria Eurípedes Barsanulfo fundado um hospital rotulado sectariamente de
espírita, a pondo de se tornar conhecido até em zonas inferiores?
“Aos poucos, fui acompanhando meu declínio físico e intelectual... O enfisema
pulmonar crônico me fazia esperar pela mortetodos os dias; de forma
que, de maneira providencial, gradualmente fui me desapegando de tudo,
inclusive do corpo desfigurado pelo tempo.” (83)
Como conciliar esse desapego acima citado com o que o mesmo Espírito disse na
obra “Na Próxima Dimensão”? (12):
“Ainda lutando para me adequar à nova realidade, quando vi que a minha
biblioteca estava sendo desfeita – o recanto em que eu passava a maior parte do
meu tempo ocioso –, provoquei um encontro espiritual com Chico Xavier e, por
via mediúnica, solicitei àquela que fora minha esposa no mundo que não
continuasse dispersando meus livros: eu ainda necessitava deles, não para
compulsá-los, mas é que, depois de perder o corpo, a sensação de perda que nos
acomete é muito grande, para que nos conformemos em perder mais alguma coisa.”
Diante de tal afirmativa,
fizemos, quando analisamos o livro citado, o seguinte comentário: É
estranho, também, o fato de um Espírito em quem seria natural presumir-se
equilíbrio e desapego, ter acesso à mediunidade e ter ocupado o tempo de Chico
Xavier para dar um recado de sua preocupação com a biblioteca que deixara na
Terra. Estava no Mundo Espiritual ou ficara agarrado às coisas materiais?
Note-se que se trata de um psiquiatra que estudou Espiritismo durante décadas.
E isso na boca de
alguém que se diz diretor de hospital psiquiátrico situado no Mundo Maior!
“ — Para aparecer
alguém e colocar tudo a perder, não é, Modesta? Eu não sei o que o Odilon tem a
dizer, mas, no que me compete, eu o mandaria às favas... O Espiritismo não tem
dono e a mediunidade também não! Se, na condição de espírita, eu tivesse que
prestar obediência a alguém, eu não seria espírita! Vocês me conhecem, e neste
ponto, sou radical.” (94)
Observe-se o
palavreado pouco próprio de quem se diz um Trabalhador do Bem. Assemelha-se
mais à fanfarronice própria daqueles que não procuram cultivar a sobriedade,
sobriedade que deve ser a marca distintiva das palavras de um médico de almas.
Pelo contrário, temos lições claras de incitação à rebeldia. Será que esse
Espírito não vê diferença entre obediência empregado/patrão e a disciplina
necessária a ser vivenciada entre dois irmãos que trabalham na seara do Cristo,
onde um orienta e o outro deve seguir-lhe as recomendações, a fim de que o
trabalho se desenvolva com eficiência?
“O espírito obsessor
a gente sabe que é obsessor; o adversário da Causa a gente sabe que é
adversário; mas o espírita que, a pretexto de defender a pureza doutrinária, é
um lobo em pele de cordeiro... Por esse motivo é que eu não aceitava ingerência
no Sanatório; se tivesse fraquejado, eles não teriam esperado que
desencarnasse, a fim de me colocarem para fora!...” (95)
O Dr. Inácio aqui
está advogando em causa própria, pois as suas obras atuais não resistiriam a um
exame de Kardec. É fácil acusar delobo em pele de cordeiro aqueles
que lhe analisam a obra. Esse Espírito não aceita, de forma alguma, que alguém
avalie o que ele escreve, nem como escreve. Recrimina qualquer apreciação que
lhe seja desfavorável, em ataques em que, quase sempre generaliza.
“— A verdade é que
todos ainda não passamos de um bando de insanos – esta é a minha opinião. —
À custa de censurar os outros, apontando-lhes os erros e mazelas,
disputamos a Preferência Divina, querendo, a qualquer preço, chegar primeiro ao
ponto que nos compete: agimos quais se fôssemos “espermatozóides pensantes”, em
disputa para, finalmente, alcançar o “óvulo” e fecundá-lo. Que morram os
demais! Não são problema nosso! Não procuramos, aos olhos de Deus, nos destacar
pelo próprio valor, mas, sim, desmerecendo os “concorrentes”; somos filhos tão
personalistas, que queremos o colo do Pai só para nós, mesmo que, para tanto,
tenhamos que atentar contra o direito dos nossos irmãos...” (96)
Começando por essa
comparação esdrúxula, o Dr. Inácio faz um discurso pessimista, doentio,
altamente destrutivo, no qual ele falsamente se inclui, querendo mostrar
que os espíritas estão a se combaterem numa luta pela conquista de um céu
fácil. Se os espíritas agissem assim, o Espiritismo não teria conquistado o
espaço que tem, nem o respeito da sociedade brasileira. Esse Espírito faz
questão de ignorar o quanto os espíritas têm feito, apesar de alguns
derrotistas como ele. É visão equivocada de quem não quer ver o imenso número
daqueles que se entregam, com abnegação e denodo, ao trabalho de evangelização
de crianças, de jovens e de adultos, conquistando, pela seriedade e segurança
de seu trabalho, cada vez mais a admiração da sociedade. Não quer ver o imenso
trabalho de assistência a necessitados, do corpo e da alma, que é desenvolvido
pelos espíritas.
“Espiritualmente,
americanos e ingleses estarão sendo amparados? Contam com a retaguarda dos
espíritos que lhes são afins?”(121)
Será que o Autor não
leu a obra “Os Mensageiros” que, no capítulo 18, revela o trabalho de amparo
espiritual propiciado indiscriminadamente aos combatentes desencarnados?
“— Acusam-me de
“humanizar” em excesso os espíritos, mas, se existe, a diferença entre espírito
e matéria é tão tênue... Para onde olho, eu só vejo matéria! Para mim,
inclusive, Deus é matéria!” (124)
Vê-se, aí, o desejo de
confundir, ao tratar de maneira tão leviana um assunto que foi discutido com
seriedade pelo Codificador.
Além disso, nunca se
viu na literatura mediúnica, um Espírito usar tanto as páginas de um livro para
defender-se daquilo que chama de acusações. No livro “Fala, Dr. Inácio!” (80),
queixou-se de um espírita que contou as 25 vezes em que ele se referiu ao
cigarro: “— Outro chegou a contar o número de vezes que, em “Sob as
Cinzas do Tempo”, se refere ao cigarro...”
Corpos dilacerados
voaram a grande distância e, então, um fato inesperado aconteceu: o espírito de
uma jovenzinha, não aparentando mais que treze anos de idade, com o abalo da
explosão teve, instantaneamente, as faculdades psíquicas dilatadas e pôde
ver-nos com nitidez. A sua casa fizera-se em pedaços e os seus familiares
simplesmente haviam desaparecido na poeira...
Fixando-se em Odilon
que, com certeza, de nós quatro fora quem mais lhe chamara a atenção, a
adolescente, trêmula e em pranto convulsivo, correu em sua direção e se lhe
atirou aos braços paternais, enlaçando-se-lhe ao pescoço. (181)
A cena acima se passa
numa região de conflito no Iraque. É de se estranhar que um Espírito,
subitamente libertado do corpo físico por efeito de uma explosão, já goze de
tanta desenvoltura e lucidez. E o cordão fluídico, que só foi cortado horas
após a desencarnação, no caso de Dimas e Fábio, em Obreiros da Vida
Eterna; de Jacó, em Voltei; de Otília, em Além da Morte;
e dos cinco jovens acidentados em Nas Fronteiras da
Loucura ? Poder-se-ia argumentar dizendo que isso não seria impossível
para um Espírito altamente evoluído. Mas, um outro argumento se impõe: será que
um Espírito de tal elevação, a ponto de não sofrer os efeitos de uma
desencarnação violentíssima, iria procurar, como criança indefesa, abrigo nos
braços do Dr. Odilon? Estaria essa jovenzinha mais preparada para a
desencarnação do que Paulo? É interessante compararmos a situação do Apóstolo
com a da jovem Jamile, logo após o golpe mortal: “O valoroso discípulo do
Evangelho sentia a angústia das derradeiras repercussões físicas; mas, aos
poucos, experimentava uma sensação branda de alívio reparador. Mãos carinhosas
e solícitas pareciam tocá-lo de leve, como se arrancassem, tão só nesse contato
divino, as terríveis impressões dos seus amargurosos padecimentos. (...) Tentou
levantar-se, abrir os olhos, identificar a paisagem. Impossível! Sentia-se
fraco, qual convalescente de moléstia prolongada e gravíssima.” Paulo
e Estêvão (549).
“A cena era
comovedora e, confesso, não consegui conter as lágrimas, que escorreram
silenciosas, pelo meu rosto coberto de pó.”(181)
Como é que um
Espírito desencarnado fica com o rosto coberto de pó?
“— Qual é o seu nome,
minha filha? – perguntou Odilon, com inexcedível ternura.
— Jamile, meu nome é
Jamile, senhor! Por favor, não deixem que os soldados me peguem!... Eu morava
com minha mãe, minha avó e um irmão menor; o meu pai foi morto antes de a
guerra começar... Eu não tenho mais ninguém, por favor, leve-me daqui!...” (182)
Não há nenhuma
indicação, na obra, de que a equipe falava árabe, ou algum dialeto daquela
região. Como conciliar essa facilidade de comunicação, diante do relato do
socorro a desencarnados em campos de batalha, contido no livro “Os
Mensageiros”? Pela palavra de Alfredo, fica-se sabendo que no socorro, nesses
casos, “para cada grupo de cinqüenta infelizes, as colônias do Velho
Mundo fornecem um enfermeiro-instrutor, com quem nos possamos entender, de modo
direto.” (99) No livro “Esperanto como Revelação”, lê-se: “Na
esfera imediata à moradia humana, porém, o problema da linguagem é daqueles que
mais nos afligem o senso íntimo. Ainda aqui, aos milhões, não obstante se nos
descerrem horizontes renovadores, achamo-nos separados pela barreira
lingüística.” (134) E na obra “Voltei”, Jacob, chegando à
Califórnia, onde visitaria Thomas Edison, diz: “Passei a usar o inglês
para melhor entender-me.” (136)
“— Doutor, não me
deixe morrer! O que houve com os meus braços, que não consigo senti-los? Onde
estão o meu pai e a minha mãe, a minha avó e os meus primos? Está doendo muito,
Doutor!...” (186)
O menino, sem os dois
braços e com o corpo queimado, conseguia vê-lo e saber que se tratava de um
“Doutor”, e ainda se comunicava com ele... Mas em que língua?
“A uns duzentos
metros do local, um camelo atingido por tiros de metralhadora agonizava e
observei que, de sua boca e narinas, escorria uma substância esbranquiçada.
— O “plasma” daquele
pobre animal nos servirá. Teça com ele uma espécie de manta... Não temos tempo
a perder!” (186)
O Dr. Inácio fez esse
pedido a um companheiro de equipe, e continuou ouvindo o menino:
“— Doutor – voltou a
falar-me o menino, cujo espírito eu podia ver quase a destacar-se do organismo
físico em lastimável condição – , onde estão os meus braços? Eu queria ser
médico como o senhor, mas... e agora? O que farei sem minhas mãos?” (187)
É impressionante que
uma criança que teve os dois braços arrancados por uma explosão, e está se
esvaindo em sangue, possa falar com tanta tranqüilidade e ainda comentar os
planos que tinha para o futuro... Ainda mais com um Espírito desencarnado...
Seria o menino médium vidente, ou estaria o Dr. Inácio materializado?
“Eu dialogava com o
garoto, procurando mantê-lo consciente, até que Manoel Roberto retornasse e o
socorro de uma equipe médica nas imediações o conduzisse a um dos poucos
hospitais que haviam ficado de pé em Bagdá!
— Eis, doutor, o que
pude fazer – disse-me o amigo, estendendo-me uma manta de gaze tenuíssima, com
a qual envolvi o corpo de Ismail, também com o propósito de aquecê-lo.” (187)
No livro
“Missionários da Luz”, aprendemos que, nos matadouros, espíritos infelizes
“sugam as forças do plasma sanguíneo dos animais.” (135) Entretanto, seria de
perguntar: se esse recurso é viável, por que os Espíritos, trabalhadores do
Bem, não se valem dele para socorro aos encarnados no trabalho regular que
fazem a benefício de encarnados?
“Acompanhando meu
pequeno paciente até ao veículo à guisa de ambulância, depositei em sua fronte
o meu ósculo paternal e não consegui conter as lágrimas, que viraram lama ao se
confundirem com o pó!” (188)
Novamente, o corpo
espiritual do Dr. Inácio sendo empoeirado pela matéria física...
“Nesse instante,
Aldroaldo, que se conservara ao lado de Odilon, se aproximou e disse-me que
precisávamos partir; não nos convinha permanecer por mais tempo, pois a onda de
saques que começava na capital iraquiana dava ensejo a que outras entidades
que, até então, se mantinham escondidas, entrassem em cena, ameaçando-nos a
segurança.” (188)
Como é que pode uma
equipe que trabalha no Bem temer Espíritos infelizes? Não aprendemos, em
dezenas de obras mediúnicas, que os Espíritos inferiores não vêem aqueles que
lhes são superiores, a não ser quando estes desejam ser vistos?
“— A questão, meus
amigos – ponderou Odilon –, começa com o descaso dos dirigentes espíritas no
que se refere à evangelização infanto-juvenil; as nossas crianças e
adolescentes não têm o incentivo de freqüentar a casa espírita e,
conseqüentemente, não são educados à luz da Doutrina... Os evangelizadores não
têm o apoio de que necessitam para levarem adiante a sublime empreitada.” (215)
Realmente, é muito
pouca a ênfase dada ao trabalho de evangelização da infância e da
juventude, da parte de muitos centros. Mas, a FEB e as Organizações Estaduais e
Municipais têm programas para o trabalho. Há, sim, necessidade de um
despertamento maior da parte dos Centros Espíritas. Entretanto, o ataque acima
é generalizado, o que não é justo...
“Valendo-me do
tumulto que se estabelecera no salão da boate, começamos a nos afastar,
todavia, vendo um toco de cigarro aceso no chão, apanhei-o e, pedindo a Deus
que me perdoasse, sendo o último da fila, retrocedi, sem que os amigos
percebessem e, confesso, não resisti à tentação: adentrei o recinto do
laboratório instalado no interior da caverna e, com um bastão, derrubei todos
os líquidos de natureza inflamável de sobre a mesa, que escorreram em direção a
diversas caixas ali depositadas, soprei, para avivar a brasa do guimba de
cigarro que recolhera e, sem pensar duas vezes, lancei-o sobre aquela mistura
diabólica e, em fração de segundo, o fogaréu se fez, espalhando-se com
rapidez...” (254)
Esse, o desfecho da
visita feita por uma equipe de Espíritos, guiados por um ex-policial, a uma
região das Trevas. (caps. 32 e 33) Se se tratava de simples observação – e o
incêndio do Dr. Inácio não estava no programa – por que não se valeram da
condição de invisibilidade própria dos Espíritos trabalhadores na seara do Bem,
conforme se lê em várias ocasiões em obras de André Luiz?
Qual o proveito dessas
descrições minuciosas de zonas de desequilíbrio? Parece que essa onda de
terrorismo via mediúnica começou com o livro “O Abismo”, de Rafael Américo
Ranieri, que relata, ao longo da obra toda, zonas tenebrosas, com minúcias
completamente desnecessárias, numa ânsia doentia, criando quadros negativos nas
mentes fracas, ao invés de dar ensinamentos proveitosos.
No livro “Libertação”
(54), há o relato de uma visita de Gúbio e André Luiz a uma região semelhante a
essa que o grupo em questão teria visitado, mas Gúbio e André Luiz tiveram uma
finalidade além da simples observação, qual seja a de entrar em contato com
Gregório, objetivando um trabalho aqui na face da Terra. Como eles tinham
necessidade de conversar com esse Espírito, fizeram-se visíveis, através de um
processo, incômodo e relativamente demorado, de adensamento do corpo
espiritual.
Pasmem comigo os
prezados leitores, mas o fato é que, em determinado local, fomos abordados por
um homem alto, de chapéu na cabeça e surrado sobretudo, que, aproximando-se,
puxou conversa e quis negociar – é isto mesmo o que vocês
estão lendo – quis negociar a nossa reencarnação, dizendo-nos:
— Posso conseguir
para vocês o que pretendem...Conheço toda a gente que mora nas imediações e,
talvez, se fizerem questão, os dois podem ir juntos... O meu preço é razoável:
se puderem pagar e não forem exigentes em demasia... Hoje, com a disseminação
do hábito de beber e do uso de drogas por parte dos jovens, coisas
assim ficaram mais fáceis de se obter. O que vocês têm para me dar em
troca? Deixarão para trás algum bem que lhes pertença?” (271 – 272)
Estavam, o Dr. Odilon
e o Dr. Inácio, providenciando a reencarnação de um matador impenitente que
estava internado no hospital, quando encontraram essa estranha criatura acima
descrita. Será que reencarnações podem ocorrer desse modo? Espírito desocupado,
agindo à margem da Lei, poderia oferecer reencarnação, como se estivesse ao seu
alvitre, como um agenciador?
Além do mais, por que
dois Espíritos ligados à psiquiatria estariam encarregados de promover a
reencarnação de um Espírito, quando se sabe que há trabalhadores especializados
em reencarnações?
“Não tivemos que
esperar muito. Curtindo tremenda ressaca, o casal se despiu dos trajes mais
íntimos e, com certeza, o resto os nossos irmãos nos dispensarão de relatar.
Digo-lhes somente que fiquei sem entender quando, após terem atingido o
orgasmo, Flávio foi praticamente sugado dos meus braços e,
como se o perispírito ainda mais se lhe restringisse, atravessando a barreira
das dimensões diferentes, encolheu-se feito um filhote de pássaro no ninho.” (282)
No livro
“Missionários da Luz” (207), o instrutor Alexandre, diante da preocupação de
André Luiz quanto à possível violação da intimidade do casal, diz o seguinte:
“Não é necessária nossa presença ao ato de união celular. Semelhantes momentos
do tálamo conjugal são sublimes e invioláveis nos lares em bases retas. Você
sabe que a fecundação do óvulo materno somente se verifica algumas horas depois
da união genésica. O elemento masculino deve fazer extensa viagem, antes de
atingir o seu objetivo.”
Seria
lícita a presença dos dois Espíritos no momento íntimo do casal? Poder-se-ia
argumentar, dizendo que não constituíam um lar em bases retas,
mas, por isso, dois trabalhadores do Bem iriam se prevalecer dessa condição de
inferioridade moral dos dois para violar-lhes a intimidade? Será que a ética
varia de acordo com o nível moral do ambiente ou da pessoa com a qual se
interage, ou ela deve ser absolutamente invariável nas almas bem formadas?
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