José Passini
Juiz de Fora / MG
jose.passini@gmail.com
O Espiritismo, na sua condição de Cristianismo redivivo, não poderia deixar de
receber os ataques das forças contrárias ao esclarecimento e libertação do
espírito humano. Embora pareça um paradoxo, o volume e a intensidade dos
ataques constituem um verdadeiro atestado da legitimidade do Consolador.
A primeira, e talvez a mais forte das investidas,
foi a publicação da obra de J. B. Roustaing, conhecida, em língua portuguesa
como “Os Quatro Evangelhos”.
Na obra “Brasil Coração do Mundo
Pátria do Evangelho”, Roustaing é citado como pertencente à equipe de Kardec.
Há aqueles que contestam a autenticidade de tal afirmativa. Entretanto, sabe-se
que todo missionário que vem à Terra traz consigo uma equipe, constituída de
Espíritos, trabalhadores de boa vontade, mas sujeitos a falhas. Zamenhof veio à
Terra com um grupo de Espíritos para a implantação do Esperanto. Dentro dessa equipe,
houve um Espírito que falhou. Traiu o grande Missionário, liderando um grupo
que apresentou uma versão modificada do Esperanto numa convenção mundial. Sua
falha foi tão grande, que foi chamado Judas por uma biógrafa de Zamenhof, tal a
repercussão da sua atitude.
Roustaing, embora tenha reencarnado com tarefa definida junto à obra de Kardec, conforme relato de Humberto de Campos na obra “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, foi vítima de Espíritos que se enquadram perfeitamente na classificação de Kardec, como Espíritos pseudo-sábios, conforme item 104 de “O Livro dos Espíritos”:
Roustaing, embora tenha reencarnado com tarefa definida junto à obra de Kardec, conforme relato de Humberto de Campos na obra “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, foi vítima de Espíritos que se enquadram perfeitamente na classificação de Kardec, como Espíritos pseudo-sábios, conforme item 104 de “O Livro dos Espíritos”:
“Seus conhecimentos são bastante amplos, mas acreditam saber mais do que realmente sabem. Tendo realizado alguns progressos sob diversos pontos de vista, a linguagem deles tem caráter sério, que pode iludir quanto às suas capacidades e luzes; porém, na maioria das vezes isso não passa de um reflexo dos preconceitos e das idéias sistemáticas da vida terrestre. É uma mistura de algumas verdades com os erros mais absurdos. Em meio aos quais despontam a presunção, o orgulho, o ciúme e a obstinação, de que não puderam livrar-se.”
Roustaing desejou produzir obra própria, tornando-se presa fácil de
fascinação. Esse não foi o primeiro, nem o último caso, na Humanidade, da
falência de um Espírito pertencente a um grupo de trabalho. Judas, da equipe de
Jesus, também falhou.
Esses quatro volumes constituem obra fantasiosa,
repetitiva, que, em muitos pontos, contradiz fundamentalmente a Doutrina
Espírita. É apresentada em tom professoral, catedrático, que choca frontalmente
com a simplicidade, objetividade e limpidez das expressões de Kardec e dos
Espíritos que dialogaram com ele.
As citações que fizermos, respostas dos Espíritos
mistificadores que orientaram Roustaing, todas em negrito vermelho serão referentes à edição
de 1971 de Os Quatro Evangelhos, que difere um tanto daquela de 1942, da mesma
editora, pois que foram suprimidos ataques a Kardec.
Roustaing pretendeu dar nova
versão à tese da virgindade de Maria, através de uma pseudo-gravidez, que teria
culminado no aparecimento de um bebê fluídico, surgido de uma gravidez
enganosa, de um parto fictício, de uma lactação aparente, de um desenvolvimento
físico falso e de uma desencarnação mentirosa.
“Mas, não o esqueçais: todo aquele que reveste a carne e sofre, como
vós, a encarnação material humana – é falível.” (pág. 166).
Estaria o Espírito querendo dizer
que se Jesus encarnasse estaria sujeito a falhar? Por isso não teria encarnado?
Jesus viveu a vida de um homem normal da sua época:
trabalhava, comia, bebia, hospedava-se nas casas das pessoas. Por que mudou
completamente seu modo de agir depois da desencarnação? Não há nenhum registro
no Novo Testamento que se tenha hospedado em casa de alguém, nem que tenha feito
refeições regulares, como fazia. É claro que desejava deixar claro que não mais
estava encarnado, que não mais tinha necessidades materiais.
Seu enquadramento na vida
terrena, enquanto encarnado é claramente demonstrada na citação abaixo:
“E chegando sábado, começou a ensinar na sinagoga;
e muitos, ouvindo-o, se admiravam, dizendo: Donde lhe vem essas coisas? E que
sabedoria é esta que lhe foi dada? E como se fazem tais maravilhas por suas
mãos? Não é este o carpinteiro, filho de Maria, e irmão de Tiago, e de José, e
de Judas e de Simão? E não estão aqui conosco suas irmãs? (Marcos, 6: 2 e 3).
Mas, embora tivesse poderes para
fazê-lo quando encarnado, nunca atravessou portas fechadas, nem apareceu ou
desapareceu subitamente, como o fez depois de desencarnado, demonstrando a
imortalidade da alma, apresentando-se apenas com seu corpo espiritual:
“E oito dias depois estavam outra
vez os seus discípulos dentro, e com eles Tomé. Chegou Jesus estando as portas
fechadas, e apresentou-se no meio deles, e disse: Paz seja convosco.” (João, 20: 26)
Há outro relato de aparecimento,
este com desaparecimento também:
“E eis que no mesmo dia iam dois
deles para uma aldeia, que distava de Jerusalém sessenta estádios, cujo nome
era Emaús. E aconteceu que, indo eles falando entre si, e fazendo perguntas um
ao outro, o mesmo Jesus se aproximou, e ia com eles. Mas os olhos deles estavam
como que fechados, para que não o conhecessem. E chegaram à aldeia para onde
iam, e ele fez como quem ia para mais longe. E eles o constrangeram dizendo:
Fica conosco porque já é tarde, e já declinou o dia. E entrou para ficar com
eles. E aconteceu que, estando com eles à mesa, tomando o pão o abençoou e
partiu-o, e lhes deu. Abriram-se-lhes então os olhos, e o conheceram, e ele
lhes desapareceu.” (Lucas, 24: 13, 15, 16, 28 a 31).
Se Jesus não teve um corpo físico, como afirma
Roustaing, por que passou a agir de maneira tão diferente depois da sua
desencarnação?
Roustaing tenta apagar a notável lição de Paulo, no
cap. 15 da Primeira carta aos Coríntios, onde o Apóstolo fala claramente em
corpo físico e corpo espiritual.
É interessante notar a argumentação de Paulo:
“Porque se os mortos não ressuscitam, também Cristo
não ressuscitou.” (16)
“Mas alguém dirá: Como ressuscitarão os mortos? E
com que corpo virão?” (35).
“Semeia-se corpo animal,
ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo animal, há também corpo espiritual.” (44)
Se Paulo entendesse que Jesus tinha só corpo
fluídico, não falaria em ressurreição.
Àqueles que perguntam sobre o que aconteceu com o
corpo físico de Jesus – pois que desaparecera do túmulo – pode-se responder com
os trabalhos levados a efeito por equipes de cientistas internacionais que
estudaram o pano sobre o qual o cadáver de Jesus foi desmaterializado, pano
esse conhecido como oSudário de Turim. Constitui ele relíquia ciosamente
guardada pela Igreja Católica Romana, que retrata a figura de um homem, de
frente e de costas, que sofrera flagelações, tudo coincidindo com o que se
conhece sobre Jesus. Mas, os cientistas não chegaram a conclusão alguma sobre
como fora gravada a imagem. Declaram que não foi pintura, tintura, queimadura
por fogo ou por ácido, nem radiação atômica. Sabemos, nós espíritas, que seu
corpo foi desmaterializado.
Entretanto, não é a tese do corpo
fluídico o ponto mais grave da obra. Há afirmativas que contrariam frontalmente
as bases doutrinárias do Espiritismo. Vejamos algumas, dentre muitas:
Evolução do Espírito:
Com Kardec, em O Livro dos Espíritos, aprende-se que o princípio inteligente
percorre, durante milênios incontáveis, as trilhas da evolução, antes de
atingir o estágio de humanidade. Aprende-se que a consciência moral que
caracteriza o ser humano, libertando-o gradualmente do jugo dos instintos,
desabrocha lentamente, revelando a perfeição imanente no Ser:
O Livro dos
Espíritos - 607 a. Parece que, assim, se pode considerar a alma como
tendo sido o princípio inteligente dos seres inferiores da criação, não?
“Já não dissemos que tudo em a
Natureza se encadeia e tende para a unidade? Nesses seres, cuja totalidade
estais longe de conhecer, é que o princípio inteligente se elabora, se
individualiza pouco a pouco e se ensaia para a vida, conforme acabamos de
dizer. É, de certo modo, um trabalho preparatório, como o da germinação, por
efeito do qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna
Espírito. Entra então no período da humanização, começando a ter consciência do
seu futuro, capacidade de distinguir o bem do mal e a responsabilidade dos seus
atos. Assim, à fase da infância se segue à da adolescência, vindo depois a da
juventude e da madureza.”
Respondendo a Roustaing, os Espíritos com os quais dialogou, falam numa
transformação do instinto em inteligência – num determinado momento – levada a
efeito por agentes exteriores e não através do próprio processo evolutivo, o
que faz pensar numa espécie de “colação de grau” espiritual. Interessante
notar, também, que o Espírito, depois de todas as aquisições individuais
retorne ao “todo universal”, onde, certamente, perderia a sua individualidade.
Além disso, como teria, um Espírito recém-saído da animalidade ter um
perispírito tão sutil a ponto de quase ser invisível aos Espíritos Superiores?
Vejamos a pergunta de Roustaing e a resposta dos Espíritos:
“Como é que, chegado ao período de preparação para entrar na humanidade, na
espiritualidade consciente, o Espírito passa desse estado misto, que o separa
do animal e o prepara para a vida espiritual, ao estado de Espírito formado,
isto é, de individualidade inteligente, livre e responsável?”
“É nesse momento que se prepara a
transformação do instinto em inteligência consciente. Suficientemente
desenvolvido no estado animal, o Espírito é, de certo modo,
restituído ao todo universal, mas em condições especiais é conduzido aos
mundos ad hoc, às regiões preparativas, pois que lhe cumpre achar o
meio onde elaboram os princípios constitutivos do perispírito. (...) Aí perde a
consciência do seu ser, porquanto a influência da matéria tem que se anular no
período da estagnação, e cai num estado a que chamaremos, para que nos possais
compreender, letargia. Durante esse período, o perispírito, destinado a receber
o princípio espiritual, se desenvolve, se constitui ao derredor
daquela centelha de verdadeira vida. Toma a princípio uma forma indistinta,
depois se aperfeiçoa gradualmente como o gérmen no seio materno e passa por
todas as fases do desenvolvimento. Quando o invólucro está pronto para
contê-lo, o Espírito sai do torpor em que jazia e solta o seu primeiro brado de
admiração. Nesse ponto, o perispírito é completamente fluídico, mesmo para nós.
Tão pálida é a chama que ele encerra, a essência espiritual da vida, que os
nossos sentidos, embora sutilíssimos, dificilmente a distinguem.” (1º vol., pág. 308).
Respondendo a Kardec, os Espíritos ensinam que o Espírito emerge lentamente da
animalidade, das necessidades materiais, através de sucessivas encarnações, ao
longo de milênios sucessivos, que se constituem em oportunidades absolutamente
necessárias ao seu progresso. O perispírito, que sempre reveste o Espírito,
vai-se modificando com o passar do tempo.
Roustaing se refere ao períspirito como se fosse uma roupagem preparada longe
do Espírito que deva usá-la: “Quando o invólucro está pronto para contê-lo, o Espírito sai do torpor
em que jazia e solta o seu primeiro brado de admiração.”
Afirma, o Espírito que respondeu
a Roustaing : “Nesse
ponto, o perispírito é completamente fluídico, mesmo para nós.” Que perispírito não é fluídico?
Seria apenas naquele momento?
O Livro dos
Espíritos - 609. Uma vez no período da humanidade, conserva o Espírito
traços do que era precedentemente, quer dizer: do estado em que se achava no
período a que se poderia chamar ante-humano?
“Conforme
a distância que medeie entre os dois períodos e o progresso realizado. Durante
algumas gerações, pode ele conservar vestígios mais ou menos pronunciados do
estado primitivo, porquanto nada se opera na Natureza por brusca transição. Há
sempre anéis que ligam as extremidades da cadeias dos seres e dos
acontecimentos. Aqueles vestígios, porém, se apagam com o desenvolvimento do
livre-arbítrio. Os primeiros progressos só muito lentamente se efetuam, porque
não têm a secundá-los a vontade. Vão em progressão mais rápida à medida que o
Espírito adquire mais perfeita consciência de si mesmo.”
Os Espíritos, respondendo a Roustaing, afirmam que o Espírito só volta à vida
material por castigo. Se é humanizado apenas após cometer a primeira falta,
depreende-se que se não houvesse falta não haveria reencarnação. Como Roustaing
explicaria a evolução do Espírito? Analise-se seu diálogo com um Espírito:
“(...) para o Espírito formado, que já tem inteligência independente,
consciência de suas faculdades, consciência e liberdade dos seus atos,
livre-arbítrio e que se encontra no estado de inocência e ignorância, a
encarnação, primeiro, em terras primitivas, depois, nos
mundos inferiores e superiores, até que haja atingido a perfeição, é uma necessidade e
não um castigo?”
“Não; a encarnação humana não é uma
necessidade, é um castigo, já o dissemos. E o castigo não pode preceder a
culpa.
O Espírito não é humanizado, também já o explicamos, antes
que a primeira falta o tenha sujeitado à encarnação humana. Só então ele é
preparado, como igualmente já o mostramos, para lhe sofrer as consequências.” (1º vol., pág. 317)
Em Kardec, aprende-se que o progresso do Espírito é irreversível, o que é
racional, pois se não houvesse a irreversibilidade do progresso espiritual não
haveria segurança nem estabilidade no Universo.
O Livro dos Espíritos - 118. Podem os
Espíritos degenerar?
“Não; à medida que avançam, compreendem o que os distanciava da perfeição.
Concluindo uma prova, o Espírito fica com a ciência que daí lhe veio e não a
esquece. Pode permanecer estacionário, mas não retrograda.”
Roustaing admite possa um Espírito que já desempenhou funções elevadas no Mundo
Espiritual ser tomado pela inveja, pelo orgulho, etc., o que evidencia uma nova
versão para a “queda dos anjos”, conforme a teologia Católica Romana e, também,
a Protestante.
“Já tendo grande poder sobre as
regiões inferiores, cujo governo aprenderam a exercer, no
sentido de que, sempre sob as vistas dos Espíritos prepostos à missão de
educá-los e sob a do protetor especial do planeta de que se trate, aprendem a
dirigir a revolução das estações, a regular a fertilidade do solo, a guiar os
encarnados, influenciando-os ocultamente, muitos acreditam que só ao
merecimento próprio devem o que podem e, desprezando todos os conselhos, caem.
É a queda pelo orgulho.
Outros, por nem sempre compreenderem a ação poderosa de Deus, não admitem haja
uma hierarquia espiritual e acusam de injustiça aquele que os criou, porquanto
é Deus quem cria, não o esqueçais. Esses os que caem por inveja.
Até o ateísmo – por mais impossível que pareça – até o ateísmo se
manifesta naqueles pobres cegos colocados no centro mesmo da luz. (...) Nesse
caso, sobretudo nesse caso, mais severo é o castigo. É um dos casos de
primitiva encarnação humana. Preciso se torna que os
culpados sintam, no seu interesse, o peso da mão cuja existência não quiseram
reconhecer.
Qualquer que seja a causa da queda, orgulho, inveja ou ateísmo, os que
caem, tornando-se, por isso, Espíritos de trevas, são precipitados nos tenebrosos
lugares de encarnação humana, conforme o grau de
culpabilidade, nas condições impostas pela necessidade de expiar e progredir.” (1º vol., pág. 311)
Kardec obtém dos Espíritos Superiores resposta que deixa muito claro que o
Espírito que atingiu a humanização não retorna jamais às formas animais, o que
contraria frontalmente a teoria da Metempsicose esposada por Roustaing:
O Livro dos Espíritos - 612. Poderia
encarnar num animal o Espírito que animou o corpo de um homem?
“Isso seria retrogradar e o Espírito não
retrograda. O rio não remonta à sua nascente.”
Em Roustaing, vê-se que, além de admitir a Metempsicose, afirmam seus
interlocutores possa um Espírito voltar à Terra, ou a outros mundos, animando
corpos primitivíssimos, como larvas!
“Haveis dito que os Espíritos destinados a ser humanizados, por terem errado
muito gravemente, são lançados em terras primitivas, virgens ainda do
aparecimento do homem, do reino humano, mas preparadas e prontas para essas
encarnações e que aí encarnam em substâncias humanas, às quais não se pode dar
propriamente o nome de corpos, nas condições de macho e fêmea, aptos para a
procriação e para a reprodução. Quais as condições dessas substâncias humanas?”
“São corpos ainda rudimentares. O
homem aporta a essas terras no estado de esboço, comotudo que se
forma nas terras primitivas. O macho e a fêmea não são nem
desenvolvidos, nem fortes, nem inteligentes.
Mal
se arrastando nos seus grosseiros invólucros, vivem, como os animais, do que
encontram no solo e lhes convenha.
As
árvores e o terreno produzem abundantemente para a nutrição de cada espécie. Os
animais carnívoros não os caçam. A providência do Senhor vela pela conservação
de todos. Seus únicos instintos são os da alimentação e os da reprodução.
Não
poderíamos compará-los melhor do que a criptógamos carnudos. Poderíeis formar
idéia da criação humana, estudando essas larvas informes que vegetam em certas
plantas, particularmente nos lírios.” (págs. 312 / 313)
Autenticidade da Encarnação de Jesus:
Kardec mostra Jesus como o modelo mais perfeito para a evolução humana, logo, o
seu corpo deveria ter a mesma constituição do corpo daqueles aos quais ele
deveria servir de modelo, e seu testemunho basear-se na verdade.
O Livro dos Espíritos - 625. Qual o tipo
mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e
modelo?
“Jesus.”
O Livro dos Espíritos - 624. Qual o caráter
do verdadeiro profeta?
“O verdadeiro profeta é um homem de bem, inspirado por Deus. Podeis
reconhecê-lo pelas suas palavras e pelos seus atos. Impossível é que Deus se
sirva da boca do mentiroso para a ensinar a verdade.”
Roustaing mostra um Jesus que estaria fingindo estar encarnado, desde o seu
nascimento até a sua morte, que teria sido também um simulacro, uma verdadeira
encenação teatral. Além do mais, ainda o chama de um Deus
milagrosamente encarnado! (1º vol., págs. 242 / 243)
“(...) um homem tal como vós quanto
ao invólucro corporal e, ao mesmo tempo, quanto ao Espírito, um Deus:
portanto, um homem-Deus.” (pág. 242)
Aqui, é declarado que o invólucro corporal de Jesus era igual ao de todos
nós...
Kardec afirma categoricamente que Jesus teve um corpo carnal e um corpo
fluídico, como todos encarnados temos:
“A
estada de Jesus na Terra apresenta dois períodos: o que precedeu e o que se
seguiu à sua morte. No primeiro, desde a sua concepção até o nascimento, tudo
se passa, pelo que respeita à sua mãe, como nas condições ordinárias da vida.
Desde o seu nascimento até a sua morte, tudo, em seus atos, na sua linguagem e
nas diversas circunstâncias de sua vida, revela caracteres inequívocos de
corporeidade. (...) também forçoso é se conclua que, se Jesus sofreu
materialmente, do que não se pode duvidar, é que ele tinha um corpo material de
natureza semelhante ao de toda gente.”
“Aos fatos materiais juntam-se fortíssimas considerações morais.
Se as condições de Jesus, durante sua vida, fossem as dos seres fluídicos, ele
não teria experimentado nem a dor, nem as necessidades do corpo. Supor que
assim haja sido, é tirar-lhe o mérito da vida de privações e de sofrimentos que
escolhera, como exemplo de resignação. (...) e fazer crer num sacrifício
ilusório de sua vida, numa comédia indigna de um homem simplesmente honesto,
indigna, portanto, e com mais forte razão de um ser tão superior. Numa palavra,
ele teria abusado da boa fé dos seus contemporâneos e da posteridade. Tais as
consequências lógicas desse sistema, consequências inadmissíveis, porque o
rebaixariam moralmente, em vez de o elevarem.
Jesus teve, pois, como todo homem, um corpo carnal e um corpo fluídico, o que é
atestado pelos fenômenos materiais e pelos fenômenos psíquicos que lhe
assinalaram a existência.” (A Gênese, cap. XV, itens 65 e 66)
Roustaing mostra um Jesus que estaria fingindo estar encarnado, que fingia
alimentar-se, desde o seu nascimento. Seria o guia e modelo enganando
que mamava, que comia, que bebia, que sofria e que desencarnou?
“Quando Maria, sendo Jesus, na
aparência, pequenino, lhe dava o seio – o leite era desviado pelos Espíritos
superiores que o cercavam, de um modo bem simples: em vez de ser sorvido pelo
“menino”, que dele não precisava, era restituído à massa do sangue por uma ação
fluídica, que se exercia sobre Maria, inconsciente dela.” (1º vol, pág. 243).
“Os
Espíritos superiores que o cercavam em número, para vós, incalculável, todos
submissos à sua vontade, seus dedicados auxiliares, faziam desaparecer os
alimentos que lhe eram apresentados e que não tinha para ele utilidade. Aqueles
Espíritos os subtraiam da vista dos homens, de modo a lhes causar
completa ilusão, à medida que parecia ser ingeridos por
Jesus, cobrindo-os, para esse fim, de fluidos que os tornavam invisíveis.” (1º vol, págs. 262/263).
Aparição de Moisés e Elias:
Inegavelmente, as afirmações mais claras a respeito da reencarnação, contidas
no Novo Testamento, encontram-se nos Evangelhos de Mateus (17: 10-13) e de
Marcos (9: 11), onde se lê que Jesus dialogou com Moisés e Elias no
Tabor, diante dos discípulos Pedro, Tiago e João. Questionado quanto à
identidade de Elias, o Mestre afirma categoricamente que João Batista foi a
reencarnação do Profeta Elias.
Em Roustaing, de maneira fantasiosa e completamente inverossímil, numa
tentativa de desacreditar a reencarnação, misturando fatos e fantasias, é
declarado que Moisés, Elias e, consequentemente, João Batista são o mesmo
Espírito, e que ali, no Monte Tabor, um outro Espírito tomou a aparência de
Moisés e conversou com Jesus. Vê-se aí, mais uma vez o ilusionismo, para não
dizer a falsidade da obra de Roustaing:
“O que, porém, Jesus naquela
ocasião não podia nem devia dizer e que agora tem que ser dito é o seguinte:
Moisés – Elias – João Batista – são uma mesma e única
entidade. Estamos
incumbidos de vos revelar isso, porque chegou o tempo em que se tem de “realizar” a “nova
aliança”, em que todos os homens (Judeus e Gentios) se têm que abrigar debaixo
de uma só crença, da crença – em um Deus, uno, único, indivisível, Criador
incriado, eterno, único eterno: o Pai; em Jesus-Cristo, vosso
protetor, vosso governador, vosso mestre: o Filho; nos
Espíritos do Senhor, Espíritos puros, Espíritos superiores, bons Espíritos que,
sob a direção do Cristo, trabalham pelo progresso do vosso planeta e da sua
humanidade: o Espírito Santo.” (2º vol., págs 497 / 498)
A obra é volumosa, pesada, extremamente repetitiva, escrita em tom catedrático,
pretensioso, que nos remete diretamente a “O Livro dos Espíritos”, item 104, no
magistral estudo que o Codificador faz a respeito da “Escala Espírita”, quando
se refere aos Espíritos pseudo-sábios. São Espíritos pertencentes a comunidades
espirituais que teimam em manter erros doutrinários relativamente à interpretação
da Mensagem Cristã, para as quais o Espiritismo representa grande perigo por
esclarecer a Humanidade.
A respeito desses Espíritos, Emmanuel faz séria advertência, que serve também
como alertamento, diante dessa verdadeira “onda editorial” que está alimentando
a vaidade de médiuns invigilantes e enriquecendo editoras: “As
próprias esferas mais próximas da Terra, que pela força das circunstâncias se
acercam mais das controvérsias dos homens que do sincero aprendizado dos
espíritos estudiosos e desprendidos do orbe, refletem as opiniões
contraditórias da Humanidade, a respeito do Salvador de todas as
criaturas.” (“A Caminho da Luz,” cap. 12),
Felizmente, a onda de roustainguismo está passando. Mas, como existem ainda
muitos volumes dessa obra em bibliotecas e livrarias, animamo-nos a fazer estas
anotações.
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