Análise do livro “Mereça ser feliz”,
autoria espiritual de Ermance Dufaux, psicografia de Wanderley S. de Oliveira.
Esta obra, como muitas outras que estão
surgindo diariamente por via mediúnica, contém ensinamentos edificantes,
citações de Jesus, de Kardec, de conhecidos Benfeitores Espirituais.
Entretanto, de permeio, traz mensagens desalentadoras, num ataque generalizado
contra os espíritas, sob a capa de alertamento. Atentando-se para os temas
abordados e o estilo dos escritores, facilmente pode-se concluir que se trata
de um plano para desacreditar o Espiritismo, desanimar trabalhadores,
desvalorizando-lhes o trabalho no Bem. Às vezes sutilmente, às vezes
diretamente, procuram desmerecer até o próprio estudo da Doutrina.
A julgar-se pela ótica deste livro, e
de outros da mesma orientação, o Espiritismo não está conseguindo ser escola de
aperfeiçoamento para ninguém, o que é absolutamente falso! Para estudo,
transcrevemos alguns trechos, em itálico, colocando entre parênteses o número
da página do livro. Conservamos fielmente a grafia original, inclusive algumas
falhas gramaticais.
Assim, o aprendiz começa a sua faina
espiritual, doando-se nas atividades de amor ao próximo e na afanosa busca de
conhecimento. O tempo passa e a melhora é evidente. Contudo, o próprio
trabalhador observa, em determinado momento, que se encontra diante de si mesmo
com o grave compromisso de transformação e crescimento, tendo uma longa jornada
a encetar. Nesse ínterim, experimenta a sensação de que o progresso efetivado
não é compensador e passa a debater-se com a questão da felicidade, do
equilíbrio e da superação de velhos vícios. (29)
Não conheço um único caso de alguém
que, tendo se colocado em atividades de amor ao próximo e se dedicado a
estudos, não tenha crescido espiritualmente. Qual seria a intenção desse
Espírito ao fazer essa afirmativa?
Comum observar, igualmente, o
pessimismo em que se encontram muitas lideranças valorosas, entregues ao
desânimo depois de ricos investimentos na lavoura doutrinária em anos de
trabalho e devoção, desacreditando de tudo e de todos, projetando no movimento
espírita o derrotismo que tomou conta do seu campo mental.
Essa questão sutil da vivência espírita
tem passado despercebida de muitos, e não é por outra razão que bons tarefeiros
têm abandonado a sementeira ou tomado (sic) em diversos insucessos do
comportamento... (30)
Outra afirmativa destituída de base.
Podem acreditar nela aqueles que não militam no meio espírita. Novamente, a
Autora toma casos isolados como regra geral. Os espíritas não são seres
perfeitos, mas tomar as atitudes de alguns poucos como verdade geral é torcer
os fatos, faltando à verdade.
Os excessos nesse tema são reais; a
intransigência, a normatização têm servido para assustar e atemorizar muitos
corações. Frases impiedosas e humilhantes têm sido estatuídas a pretexto de
esculpir um modelo de conduta ou padrão para a vida espírita, calcadas em
velhos chavões religiosistas no estilo “espírita faz isso, espírita faz
aquilo”, subtraindo a possibilidade da conscientização, do amadurecimento, da
interiorização dos conteúdos pelas vias sagradas do coração. (31)
Seria de se perguntar como conciliar a
crítica acima com o que está em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, no cap.
17, intitulado “Sede Perfeitos”, que contém todo um roteiro de aperfeiçoamento
de conduta, em que se destaca, no item 4, a conhecida advertência:
“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos
esforços que emprega para domar suas inclinações más.”? E toda a obra de Emmanuel?
E a de André Luiz, que escreveu um livro específico, intitulado “Conduta
Espírita”? Caberia a Kardec, a Emmanuel, a André Luiz e a toda essa legião de
Espíritos que se têm comunicado através de vários médiuns, sempre concitando a
criatura humana ao esforço de aperfeiçoamento, o título de intransigentes e normatizadores?
Ou estará esse Espírito querendo
legitimar a posição daqueles que se acomodam com os vícios milenares do ser
humano, para arregimentá-los, através de técnica sutil fundamentada na insubordinação
aos padrões éticos trazidos por Jesus?
A ser verdade o que esse Espírito
afirmou acima, os centros espíritas estariam se esvaziando progressivamente.
Entretanto, o que ocorre é exatamente o contrário. Vê-se um aumento assustador
na freqüência às casas espíritas. Esse Espírito, se estivesse bem informado, se
quisesse realmente ajudar, por certo chamaria a atenção para a necessidade
urgente da preparação de evangelizadores de infância, de juventude e de
expositores para o público em geral.
E o mais lamentável é que muitos
corações passam a acreditar que esse mecanismo de sofrimento é o resultado de
reflexos do seu passado reencarnatório, quando, em verdade, a pessoa está no
labirinto de si mesma sem conseguir encontrar as saídas pelas quais já poderia
ter passado, caso guardasse melhor habilidade de conviver bem consigo própria. (32)
Sutil jogo de palavras, próprio de
Espíritos mistificadores. O que seria essa habilidade de conviver
consigo própria, se não a busca da paz pelo esforço no aperfeiçoamento de
conduta, com base na meditação, na prece e no trabalho no Bem? Ou seria a
acomodação com os próprios erros?
O Espiritismo realmente nos ensina que
estamos na colheita de nossas semeaduras do passado, próximo ou remoto,
mostrando que a melhor solução para as dificuldades presentes é o trabalho no
Bem e o esforço na construção da paz íntima. A Autora desconhece que os
ensinamentos espíritas apontam exatamente no sentido contrário desse cultivo da
dor para a remissão de pecados? Ela tenta passar a imagem de que a depressão
campeia no meio espírita. Por que, ao invés dessa mensagem desalentadora, não
fala do valor da prece?
Adentramos o centro espírita. Era
intensa a movimentação em ambos os planos. Em uma saleta mais resguardada,
vimos o irmão Santos, presidente daquela agremiação, em sentida prece a Jesus
pelas tarefas da noite. Após isso, expediu normas à pequena equipe de
atendentes para os serviços do diálogo fraterno que logo se iniciaria. Nosso
irmão Santos apresentava um halo reluzente que denotava paz e equilíbrio
interior.
Logo após, ao ouvir o relato de bela
jovem desequilibrada, o presidente do centro, se encanta com ela, e, sentindo
forte inclinação para um desvio comportamental, faz o seguinte apelo: “Jesus,
por que o Senhor faz isso comigo? Como posso resistir a semelhante tentação?
Perdoe-me, mas tenho minhas necessidades!... Estou confuso e fraco. Não consigo
resistir!” (43)
Essa, a fragilidade do presidente de
uma agremiação espírita, pai de três filhos, cuja esposa era trabalhadora da instituição.
Como pode um trabalhador, cuja luz espiritual que apenas diminuíra,
desequilibrar-se simplesmente por ouvir o relato da vida amorosa de uma
criatura? E o que dizer dessa prece a Jesus, cobrando do Mestre a tentação que
lhe teria destinado? A Autora, ao transcrever a história desse presidente de
centro quer, mais uma vez, demonstrar a fragilidade daqueles que apenas
“trabalham no Bem e estudam”. Qual a orientação seria dada a Santos, para que
não fraquejasse?
Ele havia se envolvido incontrolavelmente
com a bela jovem. Permitiu-se sonhos de ventura e paixão, enquanto ouvia a dor
alheia, e num impulso infantil, mas demonstrando uma fachada de tranqüilidade,
atravessou todas as dependências da instituição em passo apressado e foi até a
sala de passes, carregando enorme desespero e lascívia. Apenas queria fruir o
prazer de vê-la outra vez.
Terminada a tarefa, seguimos o dedicado
servidor até a sua residência. Esquivou-se dos cumprimentos de cordialidade,
deixando seus familiares atônitos e trancou-se em seu escritório particular,
recusando conversa e convivência.” (44)
Sempre o alvo dos relatos equivocados
são espíritas, principalmente os dirigentes... Imaginemos, se um dedicado
dirigente espírita é tão frágil, está tão sujeito a falhas tão grosseiras, de
que lhe vale o esforço no Bem? Quem julgasse o Espiritismo pela ótica desse
Espírito não acreditaria mais em nada. Parece que Ermance vai propor
uma postura nova diante dos ensinamentos dos Espíritos, no que tange à
aplicação do Evangelho na vida.
Mauro, nosso companheiro é um
reincidente contumaz Sua invigilância vem agravando-se a bom tempo. Como
ninguém lhe supervisiona os atos, considerando-se que ele é o “supervisor” de
todos na condição de dirigente, fica à mercê de suas limitações. Não tendo com quem
possa lhe ouvir ou não querendo abrir-se para diálogo sincero com quem vote
confiança, enfraquece-se em lamentável crise de sigilo mantendo a fachada de
bom espírita, porém, solitário e cansado em suas lutas. (44)
É uma proposta utópica, absurda, essa
de os trabalhadores de um grupo exporem suas limitações, seus problemas
íntimos, aos demais companheiros de trabalho, ainda mais no tocante à vida
sexual. Se ainda não aprendemos a dialogar abertamente nem nos grupos
mediúnicos, se ainda não conseguimos nos libertar dos melindres, como, então,
propor passos tão arrojados? Afinal, quem orientaria o grupo? Quem seria o
psicoterapeuta? Por que não aplicar o que se aprende da Doutrina, ou seja, a
busca do aconselhamento com Espíritos Amigos, durante o sono físico? Um
espírita que tenha a lucidez de analisar seus atos, sentindo a própria
fragilidade, é alguém que busca aperfeiçoar-se. Nesse caso, não seria mais
fácil solicitar socorro aos amigos espirituais, confessar-se a eles,
rogando-lhes amparo, do que abrir sua vida íntima aos companheiros de trabalho?
Será que esse Espírito não mediu as proporções da utopia que propõe? Ou,
intencionalmente, as mediu?
Esse sutil ufanismo ronda as esferas
doutrinárias quando se crê, com a melhor das intenções, que a Revelação
Espírita é a “única” estrada de acesso para a libertação do homem junto aos
cativeiros das expiações terrenas (56)
Afirmativa profundamente leviana!
Parece que esse Espírito tem visitado outras esferas doutrinárias, que não as
espíritas, pois que “O Evangelho segundo o Espiritismo” tem o cap. XV
intitulado: “Fora da caridade não há salvação”, e não “Fora do Espiritismo...”
Pregam felicidade e apontam rumos,
aliviando o outro com a tese de que em Espiritismo não se cobra valores
financeiros pelos bens espirituais, incentivando a procura e a adesão como se
angariasse um fiel para salvação, despreocupando em confortar as chagas e ser o
mensageiro da doutrina em si próprio, para aquele que sofre e necessita de
arrimo.
Essa “ética de reclusão” enseja uma
quase “alienação” dos centros espíritas junto aos problemas sociais, porque
destaca-se como vantajoso e correto que a sociedade busque o centro e não o
inverso. (56 / 57)
Será que esse Espírito tem certeza do
que está dizendo? Até mesmo pessoas de outras religiões reconhecem a caridade
como principal característica do Espiritismo! Hoje, além do socorro material
propiciado através do alimento e do vestuário – quando não até de moradia –,
está se generalizando, e com excelentes resultados, o “Atendimento Fraterno” que,
através da conversa evangelizante leva-se aquele que busca o socorro à prática
da reflexão, do auto-conhecimento, à luz da prece, com o auxílio do passe e, em
certos casos, o encaminhamento à desobssessão? Observe-se a falácia do conselho
para que o centro espírita busque a sociedade. Será que é sugestão para que os
espíritas batam de porta em porta oferecendo o Espiritismo, como outras
religiões o fazem?
Forma-se assim uma linguagem, um
discurso estereotipado com sugestões derivadas dessa atitude ufanista como a de
solicitar ao novo freqüentador que deixe a sua religião para poder freqüentar a
casa espírita, ou ainda que abdique de novenas e hábitos de adoração por não
condizerem com o “estereótipo espírita”, ou mesmo na formulação de teses sobre
carmas e mediunidade a desenvolver como se fossem “senhas de aceitação e
batismo” do novo aprendiz nas atividades doutrinárias. (56 / 57)
O trecho transcrito acima chega a ser
revoltante! O discurso destrutivo desse Espírito vai, quase que
imperceptivelmente, crescendo em intensidade, à medida em que vai envolvendo o
leitor menos atento. São verdadeiramente estarrecedoras essas afirmativas. Onde
esse Espírito viu essas práticas? Chega às raias do atrevimento dizer que no
Espiritismo sugere-se que alguém deva deixar sua religião para freqüentar um
centro espírita, como se fosse exigida uma profissão de fé. Está se tornando
comum, em obras mediúnicas surgidas ultimamente, a tentativa de minimizar ou de
anular o valor da vivência espírita. Aos trabalhadores, essas mensagens não
afetam, mas atingem aqueles que se aproximam do Espiritismo. Esses, o alvo
principal de semelhantes pronunciamentos.
Grande decepção será pernoitar nesse
ufanismo doutrinário e acordar nas paragens extrafísicas decepcionados com a
dura realidade de nossa condição espiritual, quando então será constatado que
incontáveis almas vitoriosas e felizes jamais ouviram falar em Espiritismo,
porque serviram única e exclusivamente à religião cósmica da caridade: muito
amaram. (57)
Sócrates, Francisco de Assis, Ghandi,
Madre Tereza de Calcutá, Albert Schweitzer, além de todos aqueles grandes
Espíritos que se comunicaram com Kardec – logo, antes do advento do Espiritismo
– , não eram espiritistas, e são freqüentemente citados como modelos em
palestras e na literatura espírita. Será que, diante disso, ainda haveria
necessidade de esse Espírito fazer essa advertência aos espíritas? Se
endereçasse suas palavras a pessoas de outras religiões – algumas que pregam a
exclusividade da salvação –, até seria compreensível. O que pretende, afinal,
esse Espírito?
E essa madureza vem se operando, ato
contínuo, enquanto ficamos nas “janelas de nossas agremiações” esperando que o
mundo se converta ao Espiritismo, assemelhando-se à figura lendária Rapunzel,
deixando crescer longas tranças de prepotência, enunciando frases do tipo: “o
Espiritismo explica tudo, tem resposta para tudo há mais de um século!” (58)
Há várias maneiras de se combater o
Espiritismo. Uma é esta: combatê-lo através de uma obra mediúnica, contendo
afirmativas assim tão levianas, infiltradas na nobre literatura Espírita.
Muitos espíritas dirão que isso não merece nem comentário. Só os fazemos porque
obras danosas como esta têm endereço certo: as mãos daqueles que estão se
iniciando no Espiritismo. Além do mais, há a necessidade imperiosa de se
denunciar essa e outras obras semelhantes como não-espíritas.
O personalismo – marca moral
pertinente à maioria esmagadora dos discípulos espíritas – é uma lente
que procura dilatar nossos valores e uma nuvem que busca ofuscar nossas
imperfeições, tornando-se entrave à opinião sincera em razão de insuflar o
melindre e a mágoa.(66)
De novo, o ataque aos espíritas! Se o
personalismo é marca moral pertinente à maioria esmagadora dos
discípulos espíritas, o Espiritismo não conseguiu despertar, até
agora, quase ninguém para o aprendizado das nobres lições do Evangelho. De nada
teriam valido as lições de Kardec e as que vieram através dos grandes médiuns.
Esse livro, sim, é uma nuvem que busca
ofuscar a luz que o Espiritismo lança sobre a vida das criaturas, o que
incomoda grandemente as Trevas. É fácil de se constatar que os inimigos da
Doutrina se cansaram de atacá-la de fora para dentro. Agora querem implodi-la,
usando a mediunidade, em obras de caráter destruidor como essa.
Ainda acerca das opiniões alheias,
acostumemo-nos a elas lembrando que o próprio Jesus não as dispensou quando
perguntou em exemplar atitude íntima aos discípulos:”Quem dizem os homens que
eu sou?” (67)
Esse Espírito deveria estudar o Novo
Testamento antes de apresentar Jesus como pessoa simplória, interessada em
comentários a seu respeito. Quem lê essa passagem em “O Evangelho segundo o
Espiritismo”, transcrita no cap. IV, entende que Jesus queria deixar o
ensinamento sobre a reencarnação, e não saber da opinião dos outros, mesmo
porque ele não precisaria perguntar nada, pois lia o pensamento das pessoas,
conforme se depreende do diálogo com a Samaritana (Jo, cap. 4).
“Então eu gostaria de começar esse
assunto dizendo, com a franqueza, de sempre e com muita piedade, que os
espíritas estão muito orgulhosos da humildade que imaginam possuir! Sim, é isso
mesmo, e vocês são testemunhas das lutas e problemas que nossos irmãos queridos
carregam para cá por causa disso.” (166)
Depois de vários capítulos contendo bons
alertamentos, as palavras acima, atribuídas a Maria Modesto Cravo, chamam a
atenção pela acusação generalizada aos espíritas, até parecendo contaminadas
pelos discursos do “Dr. Inácio Ferreira”, que não se cansa de falar mal de
médiuns e de espíritas, através de ditos chistosos e de uma pretensa franqueza,
vazados numa linguagem pouco condizente com a dignidade e a nobreza da
mensagem espírita.
“Para ser franca e brincar um pouco com
coisa séria, o movimento espírita está parecendo uma passarela onde o orgulho
desfila com várias fantasias. Fantasias de grandeza e propriedade da verdade
são os adornos que mais se vê!!!”
Logo após meu retorno para a vida dos
espíritos, fui convocada por Eurípedes a coordenar as ações para (sic) um
novo pavilhão junto a essa casa de amor, destinado a socorrer os líderes
religiosos Cristãos da humanidade, especialmente os dirigentes espíritas. Por
três décadas consecutivas venho aprendendo nessa tarefa sobre os perniciosos
reflexos do orgulho. O pavilhão sob as ordens de minha equipe tem crescido em
tamanho e necessidades a cada dia.” (167)
Novamente o ataque aos espíritas. Até
parece o “Dr. Inácio”! Nunca Maria Modesto Cravo faria tal afirmação a respeito
dos espíritas. Entre os espíritas pode haver algumas expressões isoladas de
orgulho e vaidade, mas essa generalização é descabida. É
de se perguntar como pode alguém combater o orgulho de outrem fazendo
afirmações de poder e de mando como as acima? Compare-se a humildade de
Clarêncio, Aniceto, Alexandre, Calderaro, Gúbio, Áulus, que nunca declararam
estar no exercício de chefia alguma.
“Em todos os campos dos seguidores de
Jesus encontramos fracassos e quedas. Nossos amigos de ideal espírita, por
exemplo, costumam falar do orgulho como quem conhece e domina o tema, dando
notas de sua presença até mesmo na prepotência em falar do assunto. Poucos
demonstram consciência do orgulho do qual são portadores, poucos sabem
realmente onde e como sua vaidade se manifesta. Basta dizer humoradamente que
existem muitos corações orgulhosos da reforma íntima que já fizeram. Tão
orgulhosos que se sentem melhores e mais adiantados que a maioria das pessoas,
dando ensejo ao surgimento das férteis imaginações de que são missionários
prontos para salvar a humanidade, quando, em verdade, expressiva maioria deles
não estão conseguindo salvar nem a si mesmos.” (168)
Pobre Maria Modesto Cravo que, como o
eminente Dr. Inácio Ferreira, está agora sendo caricaturada por esses
Espíritos, cuja leviandade os leva a formular afirmativas tão absurdas como as
que se lêem acima. Esse livro não mereceria sequer comentário, não fosse para
ajudar alguns espíritas novatos, ainda incapazes de avaliar tamanha
mistificação.
“Essa modéstia imaginada pelos
espíritas precisa ser esclarecida em favor da felicidade deles próprios. Eles
estão com orgulho da humildade que supõem possuir, meus amigos! Isso é
grave!...”
“Uma modéstia imaginada e não sentida,
uma quase fragmentação que beira os quadros mais conhecidos da “psicose
pacífica, aceitável.”
“Como assevera Inácio Ferreira:
“os espíritas estão passando por uma loucura controlada, uma psicose
intermitente...” Mas temos que perguntar: quantos conseguirão manter esse
controle e até quando?”
“Ainda usando as claras observações de
Inácio, ele nos diz que “o pior louco é aquele que finge que não é louco,
porque não assume, não quer enxergar.” (170)
Se alguém, que não conhece o
Espiritismo, ler essas barbaridades veiculadas por esse ou esses Espíritos, vai
imaginar que os centros espíritas estão lotados de pessoas orgulhosas, tolas,
que se enganam a si próprias, nada fazendo pelo seu aprimoramento espiritual,
que é a marca primeira da Doutrina. Parafraseando o “Dr. Inácio”, pode-se dizer
que o pior médium é aquele que não avalia aquilo que publica, pois muito do que
se lê nessa obra é um verdadeiro atentado ao Espiritismo, através de um
atentado ao bom senso.
“Vemos quantos companheiros estão
empenhados em largar cigarro, bebidas, carne e certos ambientes como se reforma
íntima fosse restrita a movimentos primários de contenção. O trabalho no
terreno dos sentimentos é o fiel da balança nos trâmites da evolução.” (170)
Novamente, a argúcia do mistificador se
revela, quando coloca num mesmo plano o uso da carne com os hábitos viciosos de
beber e de fumar. Ao dizer que a reforma íntima não se restringe a “movimentos
primários de contenção”, ele minimiza o esforço da criatura que se empenha em
deixar algum hábito vicioso. A respeito do hábito de fumar, não se poderia
esperar outra posição do “Dr. Inácio”, pois ele faz questão de fazer tremenda
propaganda desse vício em várias obras de sua autoria.
“Bom, chega de falar mal dos
espíritas!”
“Se um dia conseguirem um médium
corajoso o bastante para relatar minha fala, digam que fiz isto como um “teste
ao orgulho”. Quem ler minha fala até esse ponto, sem ter um enfarto de revolta,
é candidato a ser humilde no futuro.” (171)
Este Espírito, que se intitula Maria
Modesto Cravo, se não é o mesmo que se apresenta como Dr. Inácio Ferreira, pelo
menos são do mesmo grupo, pois o falar é igual: a relativização do vício de
fumar (agora acrescida do de beber), o ataque aos espíritas, a irreverência, o
humorismo fora de contexto e o hábito de alardear coragem. É lamentável que a
mediunidade e a imprensa espírita sejam usadas para isso...
Num “Apêndice” da obra, Ermance
apresenta um “Programa de Bezerra de Menezes”, que é uma repetição monocórdia
das críticas aos espíritas e aos centros:
“A melhor campanha para a instauração
de um novo tempo na Seara passa pela melhoria das condições do centro espírita,
que é a célula operadora do objetivo do Espiritismo. Lá sim se concretizam não
só o conhecimento e o trabalho, mas a absorção das verdades no campo individual
em colóquios íntimos e permanentes, que reproduzem os momentos de Jesus com seu
colégio apostólico. (175)
O período acima consta do apêndice, no
final do livro. É intitulado “Programa de Bezerra de Menezes”, mas no fim da
página há a declaração da autoria: “autores diversos”, o que leva o leitor a
não saber qual o trecho atribuído a esse abnegado Espírito.
Note-se o uso de frases de efeito: O
que quer o autor dizer com absorção das verdades no campo individual
em colóquios íntimos e permanentes? Nota-se, mais uma vez, o esforço
desse Espírito no sentido de confundir, atacar o trabalho desenvolvido nos
centros, minimizando o seu valor e sugerindo sua substituição por ações que
ficam nas palavras, sem uma explicação clara e objetiva.
Será que Jesus promovia esses colóquios
íntimos e permanentes, como sugerido acima, ou vivenciava as verdades
que pregava, através do serviço ao Pai, na pessoa do próximo?
“Por isso, temos que promover as Casas,
de posto de socorro e alívio a núcleo de renovação social e humana, através do
incentivo ao desenvolvimento de valores éticos e nobres capazes de gerar a
transformação.”
“Para isso só há um caminho: a
educação.” (175)
A que casas espíritas esse Espírito se
refere?
E o que têm feito as casas espíritas
orientadas segundo os ditames da Doutrina? Não são núcleos de educação humana,
através da divulgação dos valores éticos do Evangelho de Jesus?
“O núcleo espiritista deve sair do
patamar de templo de crenças e assumir sua feição de escola capacitadora de
virtudes e formação do homem de bem, independentemente de fazer ou não com que
seus transeuntes se tornem espíritas e assumam designação religiosa formal.”(175)
Se um núcleo é um templo de
crenças, não é um centro espírita. Se não é uma escola
capacitadora de virtudes e formação do homem de bem, também não o é. E
se está tentando fazer com que alguém se torne espírita e assuma
designação religiosa formal, nega completamente a sua condição de casa
espírita.
Em que centro espírita esse Espírito
viu algo parecido com isso, para fazer mais essas declarações falaciosas? É
possível que alguém, sendo espírita, aceite um despautério dessa envergadura?
“Elaboremos um programa educacional
centrado em valores humanos para dirigentes, trabalhadores, médiuns, pais,
mães, jovens, velhos, e o apliquemos consentaneamente com as bases da
Doutrina.” (175)
E não é isso que o Espiritismo tem
feito? Aliás, tem feito mais, pois proporciona educação também à criança,
através de aulas de evangelização, o que não consta das recomendações
“pedagógicas” desse Espírito. Por que ele, ao invés de criticar, não apresenta
o seu programa educacional? Aqui nos lembramos dos Espíritos
apontados por Kardec como pseudo-sábios (O Livro dos Espíritos, item 104).
Esclarecemos que não pretendemos ter
esgotado o assunto. Uma análise exaustiva de todos os pontos controversos dessa
obra postularia a edição de um outro livro. Compreendendo que a preservação dos
princípios doutrinários do Espiritismo é dever de todo aquele que se beneficia
dos seus esclarecimentos, é que entregamos aos espíritas este trabalho inicial,
relembrando a judiciosa recomendação do Espírito Erasto, contida no item 230 de
“O Livro dos Médiuns”: Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma
única falsidade, uma só teoria errônea.
José Passini - Juiz de Fora MG
passinijose@yahoo.com.br
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